Capítulo 153: Autoridade
"O que devemos fazer?" perguntou um homem.
A maioria esmagadora já tinha se decidido, mas quando o momento realmente chegou, começaram a hesitar. Nesse instante, o velho que havia conversado com Kael antes destacou-se no meio da multidão e começou a caminhar na direção da casa lentamente.
Os olhos de todos se voltaram para ele, aguardando ansiosos para ver o que aconteceria.
O velho caminhava tranquilamente. Ele havia prestado bastante atenção em Kael e não sentiu malícia em suas intenções. Na verdade, Kael não tinha motivo algum para enganá-los. Ele era mais poderoso que aqueles que os atormentavam, então por que perderia tempo com mentiras? Ele simplesmente poderia fazer o que quisesse, e ninguém teria capacidade para resistir.
O problema agora eram as palavras de Kael. Ele apenas poderia garantir a segurança deles enquanto estivesse vivo, e não poderiam mais se conectar ao mundo exterior.
O velho não se importava com a segunda questão. Afinal, aquele lugar já era remoto, e desde que foram atacados, não tinham mais contato com outras cidades. Quanto à primeira, ele decidiu acreditar. Acreditar no poder de Kael e na promessa de que ele não morreria no meio do caminho, podendo continuar protegendo-os até o fim de suas vidas – vidas incrivelmente curtas comparadas às dos cultivadores.
Mesmo que Kael acabasse morrendo, disse que isso não necessariamente seria prejudicial para eles. Por fim, mesmo que morressem junto com ele, não fazia diferença. Pelo menos teriam uma vida tranquila até o último momento. Com isso em mente, o velho seguiu em frente sem peso na consciência.
Os olhos de todos estavam fixos nele, que finalmente deu os últimos passos e entrou na fronteira dos cem metros. No instante seguinte, desapareceu.
"Ele desapareceu!" exclamou um cidadão, chocado.
"O que está acontecendo?" perguntou outro, com os olhos se movendo de um lado para o outro, procurando a figura do velho.
"Assim como foi dito, depois de entrar na zona dos cem metros, não pertenceremos mais a este mundo!" afirmou um homem, engolindo em seco.
O lugar ficou em silêncio, até que de repente:
"Vamos, mãe, nós finalmente poderemos viver em paz!" A voz de um garoto soou. Todos viraram a cabeça na direção dele.
O garoto estava sorrindo e puxando a mão da mãe. Eram a mulher e o filho que Kael havia salvado quando chegou à cidade. A mulher também sorria levemente enquanto caminhava com o filho. Assim como o velho, ela não duvidava das palavras de Kael – daquele que a salvou e vingou seu marido. Os dois rapidamente entraram na zona de cem metros e desapareceram.
"Droga! Não é como se tivéssemos escolha. Se ficarmos aqui por mais alguns dias, outros bastardos virão do Clã Kingdom para nos matar!" gritou um homem, que saiu correndo e desapareceu na zona dos cem metros.
Com essas palavras, o último resquício de hesitação dos outros desapareceu completamente. Era verdade. Eles não tinham para onde ir, nem podiam ficar ali. Era melhor acreditar nas palavras daquele que os salvou e tentar essa última possibilidade. Um a um, começaram a andar para frente e desapareceram deste mundo.
*
Kael estava sentado dentro da casa, imóvel. Quando percebeu que as pessoas pararam de hesitar, deu um suspiro de alívio. Ele realmente queria salvá-los, mas não podia obrigá-los.
Mantendo-se concentrado, teletransportava todos que entravam no alcance de seu Sentido Espiritual. O procedimento foi rápido. Em menos de cinco horas, mais de quinze mil pessoas haviam entrado no pequeno mundo.
A cidade tinha uma população maior do que Kael esperava. Além disso, parecia que todos decidiram ir. Nesse momento, não havia mais pessoas nas proximidades.
''Felizmente o pequeno mundo já se desenvolveu bastante, e os recursos são o suficiente para todos sobreviverem.'' Pensou ele.
Kael, então, voltou sua consciência para dentro do pequeno mundo.
*
Dentro do pequeno mundo, as pessoas estavam reunidas em uma área aberta. Até onde a vista alcançava, o gramado verde e exuberante se estendia, criando uma paisagem de beleza quase irreal. A maioria estava sentada, maravilhada, enquanto observava o cenário. Outros caminhavam ao redor, movidos pela curiosidade.
No início, todos ficaram chocados com a transição repentina. Haviam desaparecido do lugar onde estavam e surgido ali. No entanto, à medida que o tempo passava, o pânico deu lugar à calma. Muitos começaram a especular que Kael apareceria em breve para explicar o que estava acontecendo, provavelmente depois de terminar de transportar todos para aquele lugar.
Conforme o tempo passava, o número de pessoas que apareciam foi diminuindo até cessar por completo.
"O que é aquilo?" Um homem gritou de repente, apontando para o céu.
Todos seguiram a direção indicada por seu dedo e viram as nuvens se movimentando de forma anormal. Gradualmente, elas tomaram forma até se transformarem em um rosto gigante, perfeitamente reconhecível como o de Kael. A visão era ao mesmo tempo grandiosa e intimidadora.
"Bem-vindos ao meu mundo!" A voz de Kael ecoou, clara e poderosa.
As pessoas ficaram em choque. Seus olhos estavam arregalados, fixos na imponente imagem no céu.
"Como isso é possível?" Alguém exclamou.
"Nem mesmo nas histórias sobre os cultivadores mais poderosos já ouvi falar de algo assim!" Outro disse, incrédulo.
Kael ignorou as exclamações e continuou: "Este é um mundo em desenvolvimento. Vocês são os primeiros humanos a habitarem este lugar."
O murmúrio da multidão cessou enquanto todos se esforçavam para ouvir cada palavra de Kael.
"Vocês poderão viver aqui sem se preocupar com ataques de cultivadores. Contudo, esse é um grande segredo meu, então nunca poderão sair. E, como este mundo faz parte do meu poder, não sei o que acontecerá caso eu sofra algum infortúnio."
Sua voz, mesmo sem soar alta, alcançava cada indivíduo ali presente, como se ele estivesse falando ao lado de cada um.
"Este mundo tem tudo que vocês precisam para sobreviver, mas há algo importante que precisam saber: a quantidade de animais ainda é pequena. Por isso, durante o próximo ano, pelo menos, evitem caçar além do necessário. Deem tempo para que eles se reproduzam. Após esse período, poderão aumentar gradualmente o consumo de carne. Isso é vital para a segurança de vocês mesmos. Não preciso dizer mais nada sobre isso."
O olhar de Kael percorreu a multidão. Todos sentiram um arrepio, como se ele pudesse enxergar seus segredos mais profundos ou mesmo atravessar suas almas.
"Alguém tem alguma pergunta?" Ele questionou.
Depois de um momento de silêncio, um homem finalmente se manifestou, olhando para o grande gramado: "Nós viveremos aqui nesse local?"
"Não. Coloquei vocês aqui por ser um local conveniente, mas pretendo teletransportá-los para outro lugar dentro deste mundo assim que terminarmos aqui."
Kael explicou com naturalidade. Fora daquele mundo, o alcance de seu Sentido Espiritual era limitado, mas ali era completamente diferente. Ele conseguia abarcar cada canto do local e exercer um controle absoluto, o que tornava simples mover a todos instantaneamente.
"Podemos cultivar?" Um homem perguntou, sua voz carregada de esperança e determinação.
Seus olhos brilhavam com o desejo de se tornar mais forte. Após anos sendo oprimido e tendo testemunhado o poder de Kael, ele queria tomar o controle do próprio destino.
Com essa pergunta, os olhares de muitos outros também ganharam um brilho semelhante. Eles haviam compreendido o valor do poder e a fragilidade das pessoas comuns.
Kael fez uma pausa antes de responder, criando um silêncio que ninguém ousou interromper.
"A verdade é que, neste momento, este mundo só pode acomodar pessoas normais. Mas, no futuro, quando eu me tornar mais forte, isso mudará. Espalharei várias técnicas de cultivo por este mundo. Vocês deverão se esforçar para encontrá-las e praticá-las. À medida que este mundo evoluir, vocês poderão evoluir junto com ele."
Essas palavras fizeram todos ficarem radiantes. Mesmo que não pudessem começar a cultivar imediatamente, a possibilidade no futuro era suficiente para reacender sua esperança. O tom confiante de Kael indicava que essa mudança não demoraria muito. Talvez, quando as técnicas fossem encontradas, já estivessem aptos a usá-las.
"Deixem-me deixar algo claro!" A voz de Kael soou novamente, firme e séria.
O silêncio retornou. As pessoas já haviam percebido que as palavras de Kael eram lei naquele lugar, então prestavam atenção máxima para não o desagradar.
"Pretendo interferir o mínimo possível em suas vidas. Mas, se alguém ou algum grupo adquirir grande poder através das técnicas que eu fornecer e usar esse poder para oprimir pessoas comuns, como aconteceu no mundo exterior, eu os destruirei!"
Sua voz explodiu como um trovão. O céu escureceu abruptamente. Relâmpagos brilharam em meio ao barulho dos trovões, ventos furiosos agitaram a paisagem, e uma frieza cortante se espalhou pelo ar.
A multidão estava aterrorizada. Muitos tremiam, sentindo o peso da ira de Kael. Mas, tão rápido quanto começou, o fenômeno cessou. O céu clareou, os trovões se silenciaram, e a calma retornou. Somente o rosto gigante permaneceu no céu, sereno e imponente.
Inicialmente abalados, as pessoas logo se sentiram aliviadas e até felizes. As palavras de Kael asseguravam que, mesmo com o surgimento de cultivadores naquele mundo, eles não ousariam abusar de seu poder sobre os mais fracos. O ciclo de opressão não se repetiria.
"Mais alguma pergunta?" Kael perguntou.
Dessa vez, ninguém respondeu. Kael assentiu e, com um gesto de sua vontade, transportou todos para outro local dentro do pequeno mundo.
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