Parte 1
O sol começava a nascer no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa, enquanto o Falcão do Mar, todo quebrado e em frangalhos, se aproximava de uma pequena ilha de rochas. A ilha era desolada, composta principalmente de formações rochosas irregulares e vegetação esparsa. Pequenas poças de água salobra se formavam entre as pedras, e o som das ondas quebrando contra as rochas ecoava pelo ar tranquilo.
Ed e Peter já estavam a bordo, tentando estabilizar o mastro danificado do navio. As velas estavam rasgadas e pendiam tristemente, como bandeiras derrotadas.
"Passa a corda, Ed." Peter pediu, suando enquanto ajustava uma polia improvisada.
"Estou tentando, Peter." Ed respondeu, enquanto lutava para prender a corda resistente ao mastro avariado.
"Esse mastro não vai aguentar outra tempestade."
"Não temos escolha." Peter retrucou, olhando preocupado para o horizonte.
"Precisamos consertar o que podemos antes que o tempo mude novamente."
Enquanto eles trabalhavam, William apareceu, emergindo de trás de uma das grandes rochas que pontuavam a ilha. Sua aparência estava desgastada, a roupa encharcada e rasgada em alguns pontos, mas seu espírito parecia intacto.
"Pai!" Ed exclamou, surpreso ao vê-lo.
"Onde você esteve? Achei que você tinha sido levado pelo Kraken."
William deu um sorriso cansado, aproximando-se do grupo. "Fui arremessado ao mar pela besta." explicou ele, passando a mão pelos cabelos molhados.
"Aproveitei para ajudar aqueles que também foram jogados. Consegui salvar alguns, mas não todos."
Peter parou seu trabalho e olhou para William com um olhar de respeito. "Muito obrigado. Ajudou bastante."
"Eu fiz o que pude." William respondeu modestamente.
"Agora, o que eu posso fazer para ajudar aqui?"
Ed suspirou, apontando para o mastro. "Precisamos reforçar o mastro e remendar as velas. Se o vento virar contra nós, estamos perdidos."
William assentiu, pegando uma corda e se juntando a Ed e Peter no trabalho de reparo. "Certo, vamos ver o que podemos fazer. Com um pouco de sorte, podemos fazer isso funcionar."
A ilha era pequena, mas oferecia algumas vantagens para os náufragos. As rochas proporcionavam alguma proteção contra os ventos fortes, e havia uma caverna na base de uma grande formação rochosa que poderia servir de abrigo temporário. Ao longe, um pequeno grupo de gaivotas fazia círculos no céu, e o som de suas chamadas se misturava ao das ondas.
"Pai." Ed começou enquanto eles trabalhavam, "o que você acha que vamos encontrar quando chegarmos na Ilha de Fen? Depois de tudo isso, parece que a sorte não está do nosso lado."
William deu de ombros, concentrado em ajustar uma corda. "Não sabemos o que nos espera, Eddy. Mas temos que continuar. Se desistirmos agora, todo aquela ilha sofrerá."
Peter, lutando com um nó complicado, acrescentou: "Ele tem razão. Sobrevivemos ao Kraken, podemos sobreviver a mais algumas tempestades."
No dia seguinte, o Falcão do Mar estava de volta ao mar. As velas remendadas inflavam com o vento, e o mastro reforçado aguentava firme enquanto o navio cortava as águas agitadas. Depois de navegar por algumas horas, uma ilha cercada por nuvens de chuva e uma tempestade intensa apareceu no horizonte. A visão era ao mesmo tempo assustadora e fascinante, com raios iluminando o céu escuro e trovões reverberando no ar.
"É a Ilha de Fen." Basil disse, apontando para a ilha envolta em tempestade.
"Temos que nos preparar. Vai ser uma atracação difícil."
Ao redor da ilha, as ondas incessantes batiam no casco do navio, jogando-o de um lado para o outro. A tripulação estava em alerta máximo, cada um em seu posto, enquanto o Falcão do Mar se aproximava do porto rochoso da Ilha de Fen.
"Segurem-se!" gritou Basil, ajustando o leme para tentar alinhar o navio com o porto improvisado.
O porto da Ilha de Fen era uma visão desolada, com pedras escorregadias e estruturas de madeira desgastadas pelo tempo e pelo mar. O vento uivava através das fendas nas rochas, trazendo consigo a chuva gelada que chicoteava os rostos dos marinheiros.
Ed, William e Wilde corriam de um lado para o outro, ajustando as cordas e preparando as âncoras. A tensão era palpável, mas a determinação em seus rostos mostrava que não iriam desistir agora.
"Estamos quase lá!" gritou Basil por sobre o som da tempestade.
"Preparem-se para lançar as âncoras!"
Com um esforço conjunto, a tripulação conseguiu atracar o Falcão do Mar da melhor forma possível, dadas as condições adversas. As âncoras foram lançadas e as cordas amarradas às rochas mais firmes que puderam encontrar.
"Conseguimos!" Peter exclamou, exausto mas aliviado.
William olhou ao redor, observando a ilha hostil que agora se erguia diante deles. "Esta ilha não parece nada amigável." comentou, sua voz carregada de preocupação.
Basil assentiu, ainda segurando o leme com força. "Precisamos encontrar abrigo e reabastecer nossos suprimentos. Esta tempestade não vai passar tão cedo, e precisamos zarpar o mais rápido possível."
O grupo desceu do navio, pisando nas rochas escorregadias do porto. A chuva continuava a cair implacavelmente, e o vento parecia querer arrancar suas roupas e pele.
Parte 2
Os raios de sol lutavam para penetrar as pesadas nuvens que cobriam o céu. O ar estava carregado de umidade, e a chuva incessante tornava cada passo difícil. Ed, William, Wilde e o resto dos marinheiros caminharam cuidadosamente pelas rochas escorregadias do porto, seus corpos encharcados pela tempestade. Enquanto eles procuravam abrigo, um trio de pescadores os avistou.
Os pescadores eram homens robustos, com roupas pesadas e botas de couro desgastadas, que demonstravam anos de trabalho duro no mar. Eles se aproximaram com cautela, observando os recém-chegados com curiosidade e desconfiança.
"Quem são vocês?" perguntou um dos pescadores, a voz grave e cansada.
Basil, ainda recuperando o fôlego após a atracação difícil, respondeu: "Somos marinheiros, sou capitão do Falcão do Mar. Sofremos um acidente e estamos buscando abrigo temporário e reabastecimento."
Os pescadores trocaram olhares, avaliando a situação. Wilde, percebendo a hesitação, deu um passo à frente. "Estamos aqui para caçar o monstro que assola essas terras. Precisamos falar com o chefe da guarda da cidade."
Os pescadores não pareceram surpresos, mas um deles, o mais velho, acenou com a cabeça. "Muito bem, sigam-me. Vou levá-los até ele."
Ed virou-se para Peter, que andava atrás dele. "Cuide de tudo aqui. Voltaremos assim que possível."
Peter assentiu, preocupado. "Fiquem seguros."
Os três seguiram o pescador mais velho através das ruas lamacentas da cidade portuária. As casas eram construídas de madeira envelhecida e pedras irregulares. As estruturas eram frágeis e inclinadas, como se o tempo e as tempestades tivessem lentamente corroído sua força. A chuva caía incessantemente, transformando as ruas em um mar de lama, e os poucos habitantes que se aventuravam fora de suas casas estavam envoltos em mantos pesados e capuzes que os protegiam do clima implacável.
As ruelas estreitas serpenteavam entre as casas, criando um labirinto de caminhos irregulares. Pequenas poças de água se formavam nos buracos da estrada, e o som das gotas de chuva batendo nos telhados e no solo encharcado era uma sinfonia constante. As luzes fracas das lamparinas das casas davam uma atmosfera sombria e melancólica ao lugar.
Após alguns minutos de caminhada, o grupo chegou a um edifício de aparência mais sólida, feito de pedras grandes e resistentes. O pescador abriu a pesada porta de madeira e gesticulou para que entrassem.
No interior, a atmosfera era mais seca e quente, embora ainda sombria. O salão estava iluminado por tochas que projetavam sombras dançantes nas paredes. No centro da sala, um homem de aparência imponente os aguardava. Seus cabelos brancos e a barba por fazer davam-lhe uma aura de sabedoria e experiência. Ele usava um uniforme de caçador adornado com um brasão de corvo estampado em um colar. Seu manto vermelho contrastava com a austeridade do ambiente. Ele ergueu a cabeça e olhou para os recém-chegados com olhos penetrantes.
"Sejam bem-vindos." disse ele, sua voz formal e autoritária.
"Sou Pallas Nomikos, o chefe da Guarda do Corvo. Já sei quem são e porque estão aqui."
Wilde foi o primeiro a se aproximar e falar. "Agradecemos a recepção. Sou Wilde Galloti, e estes são William Haver e seu filho Ed. Estamos prontos para a caçada ao monstro. Queremos nos preparar para caça-lo amanhã."
Pallas assentiu lentamente, analisando cada um deles. "Agradeço pela prontidão de vocês. O monstro tem sido uma ameaça constante para nossa comunidade. A Guarda do Corvo está à disposição para fornecer o que precisarem para essa caçada."
"Precisaremos de provisões, informações sobre o monstro e qualquer equipamento que puderem nos fornecer." disse Wilde, direto ao ponto.
"Certamente." respondeu o chefe da guarda Pallas.
"Faremos o possível para equipá-los adequadamente. Venham, vou levá-los ao arsenal. Vocês poderão escolher o que necessitam."
De repente, um grito desesperado ecoou do lado de fora. Todos se voltaram para a porta, alarmados.
Uma mulher entrou e correu pelo corredor, a expressão de pânico em seu rosto. "Minha filha! Minha filha está morta!" ela gritava, as lágrimas misturando-se com lama em seu rosto.