Henry olhou para a xícara de café, refletindo sobre suas palavras. Lenka escutava atentamente, seus olhos fixos nele, enquanto a chuva lá fora aumentava, criando um ritmo constante e suave contra as janelas do café.
Henry: (respirando fundo) "Após esses pensamentos acerca desta questão, chorei horrores naquela noite. Sofria silenciosamente no escuro do meu quarto ao perceber que havia me tornado escravo de minha própria mente. Nem gostava daquilo que enxergava no espelho. No dia seguinte, tomei a iniciativa de conhecer a famosa entidade divina que os seres humanos falavam muito a respeito. Fui a uma igreja perto de casa e frequentei por aproximadamente um ano. Mostrou-se um grande feito positivo sobre minha vida, no que concerne aos conhecimentos adquiridos enquanto atuava dentro daquela organização. Cheguei a um entendimento daquilo que evidentemente seria necessário para suprir o vazio da alma."
Lenka: (curiosa) "E por que você não continuou?"
Henry: "Entretanto, não continuei dando rito a este trabalho por muito tempo. O orgulho e egoísmo consumiram o santuário que, supostamente, denotava a existência de uma criatura que domina nosso subconsciente. Comecei a ouvir uma voz misteriosa na minha cabeça, dizendo que estava equivocado em seguir aquele caminho. Isso causou meu retrocesso na sociedade de modo geral, atingindo todos os aspectos da minha vida."
Lenka: (compreensiva) "Deve ter sido difícil lidar com isso."
Henry: "Foi. Essa voz misteriosa acabou resultando na predominância de uma vastidão de matéria escura dentro de mim. O templo em ruínas, a perda do Espírito Santo, tudo isso transformou minha vida. Quando perdi aquilo que era o bem mais precioso, notei a seriedade da situação. Uma parte de mim havia sido arrancada, sem dó nem piedade. Algumas pessoas que acompanhavam meu progresso presenciaram o momento estarrecedor que estava para dar prosseguimento nos dias seguintes."
Henry fez uma pausa, suas mãos tremendo ligeiramente enquanto segurava a xícara. Lenka apertou sua mão com ternura.
Lenka: "E o que aconteceu depois, Henry?"
Henry: "Eu praticamente já não era mais o mesmo. O vazio havia consumido completamente todo o meu corpo, me sentindo um ser totalmente irracional, atingindo os limites da simples compreensão humana. Muitos na sociedade me consideravam esquisito. Surgiram diversas indagações sobre por que recorrer à voz de uma figura desconhecida. A verdade foi revelada: trocamos a dor externa pela interna. Observando as feridas abertas, submeti-me ao domínio de outra criatura em um experimento realizado nesta tentativa. Geramos o efeito de espelhamento uma vez, dando acessibilidade a essa personalidade habitante criada. Ela adquiriu independência e consciência, superando-me nos últimos anos."
Lenka: (com os olhos cheios de compaixão) "Você criou um monstro, Henry. Mas isso não define quem você é."
Henry: "Eu sei. Decidi me afastar de todos para evitar riscos aos demais e poder retornar ao controle sobre essa entidade. Isso resultou em dificuldades que enfrentei para lidar com a situação atual, surtindo efeitos positivos e negativos."
Lenka: "E como você lidou com tudo isso?"
Henry: "Através disso, acabei indo pelo entendimento do ateísmo. Para tudo deve haver uma justificativa nesta vida. Meus olhos estavam vendados espiritualmente, então segui meus próprios conceitos e princípios para buscar um sentido. O vazio já havia dominado completamente minha existência, como um imenso buraco negro sugando tudo. Ninguém me entendia, nem mesmo a psicóloga. Eu a confrontava, sempre trazendo novas questões relacionadas à dívida que tinha com essa criatura misteriosa."
Henry fez uma pausa, olhando para a chuva que caía lá fora. Lenka continuava a ouvir atentamente, sem interrompê-lo.
Henry: "Amigos começaram a se afastar. Revelaram meus segredos para desconhecidos, viraram as costas quando mais precisei e nem tentaram oferecer suporte. A alegria de viver se transformou em noites chuvosas com grandes tempestades. O derramamento de sangue foi o mecanismo adotado para aliviar a dor. Perdi o amor próprio, sempre tentando alterar minhas características para ser mais sociável. Gerava grandes alterações comportamentais para causar uma boa impressão e buscar aceitação."
Lenka: (segurando a mão dele) "Você não precisa mudar quem você é, Henry."
Henry: "Eu sei disso agora, Lenka. Mas, na época, pensamentos surgiam como disparos de armas de fogo sobre meu cérebro. Tantas questões negativas... Não importava o que eu fizesse, ainda continuava me cobrando e exigindo continuamente, como uma bomba prestes a explodir. Pessoas tentaram auxiliar de todas as maneiras, mas nada parecia ajudar."
Lenka enxugou uma lágrima que escorria pelo rosto de Henry.
Lenka: "Henry, você passou por tanto. Mas está aqui, lutando. E isso é o que importa."
Henry: "Obrigado, Lenka. A história que relato é dedicada a todos que não desistiram de mim em nenhum momento. Agradeço a todos que me ajudaram. Podemos reafirmar que, mediante os acontecimentos em Nova Iorque, levamos a outro destino entrelaçado aos caminhos cruzados anteriormente. Descobrimos fatores curiosos relacionados ao ato atentatório desta entidade, e a suposta profecia sobre a extinção das espécies e os riscos futuros."
Lenka: "Estou com você, Henry. Vamos enfrentar esses desafios juntos."
A chuva lá fora começava a diminuir, e um raio de sol tímido atravessava as nuvens, iluminando o café. Henry sorriu, sentindo-se um pouco mais leve com a presença de Lenka. Eles brindaram novamente com suas xícaras de café, celebrando esta amizade convicta de que poderiam chegar um outro nível.