Dentro dos muros congelados, o Coronel Cleaner, outrora amistoso e alegre, agora era um homem transformado pelo peso dos ataques constantes. Sua expressão antes calorosa havia se tornado carrancuda, marcada pelo cansaço e pela incerteza. Seu objetivo de derrotar os dragões parecia cada vez mais distante, uma sombra de dúvida pairando sobre sua determinação outrora inabalável.
De dentro de sua sala, ele ouviu um burburinho entre os soldados que estavam do lado de fora:
— Coronel Cleaner, aqui é o Sargento Dugger. Temos uma visitante no portão principal. O senhor vai vir recebê-la ou podemos utilizar o procedimento padrão?
— Acho que vou deixar você se divertir um pouco hoje, mas não exagere como da última vez, ok Dugger. Mantenha a discrição, não se esqueça de que temos um nome a zelar e soldados a ensinar.
— Obrigado, Coronel Cleaner, vou manter isso em mente.
E o Sargento Dugger se retirou com pressa. Ele estava torcendo para que o Coronel Cleaner realmente não quisesse fazer a recepção daquelas visitantes. Afinal de contas, o veículo em que elas estavam seria uma boa aquisição para o exército.
O incrível era que elas haviam desviado de todos os bloqueios e minas explosivas que havia até a chegada do portão principal daquela base. Isso significava que elas eram boas o suficiente para chegar até ali vivas. Era uma pena elas terem feito tanto esforço para nada, pensou Dugger maliciosamente enquanto instruía seus subordinados.
Enquanto isso, Kowalsk estava pensando sobre os diversos tipos de bloqueio e os pontos minados que teve de desviar até chegar ao portão da base. Obviamente, seria um modo de bloquear os inimigos que viessem de frente e com pressa em fazer vítimas. Mas aqueles bloqueios metálicos exigiam que os inimigos fizessem curvas para que desviassem dos demais obstáculos à frente, forçando-os ao encontro das minas subterrâneas e do armamento pesado do exército.
No entanto, não era uma tática eficaz levando-se em conta que o inimigo eram simplesmente dragões; logo, eles simplesmente avançariam pelo alto. As barreiras no solo não fariam a mínima diferença, mesmo com todo o poderio militar que aquela base tivesse. Ainda não era o suficiente e nem capaz de parar seus inimigos alados.
Fosse pelo ar ou fosse por terra, desde que fosse contra os dragões, o exército não poderia detê-los; quando muito, atrasá-los um pouco.
Enquanto fazia essa reflexão, o portão principal da base se abriu enquanto vários soldados vieram circulando o veículo de Kowalsk fortemente armados com fuzis e metralhadoras:
— Abram as portas do seu veículo, saiam e levantem as mãos. Sejam espertos e não façam nenhum movimento brusco.
— Calma, soldado, nós viemos aqui para ajudar.
Disse Kowalsk queremos amenizar a situação.
— Não me venha pedir calma, seu civil insolente!
Gritou o Sargento Dugger enquanto dava uma coronhada na cabeça de Kowalsk, que caiu sem conseguir esboçar nenhuma reação.
Thilláila teve uma reação imediata, causando um pulso eletromagnético mental que apagou a mente dos soldados nas imediações, causando desmaio momentâneo seguido de convulsão.
Porém, antes que Thilláila pudesse fazer qualquer outra coisa, um soldado que havia se mantido escondido veio por trás e deu-lhe uma coronhada, derrubando-a imediatamente.
Menos de uma hora depois, Kowalsk estava dentro de uma cela, amarrado e com dois soldados ao seu lado chacoalhando-o e jogando água no seu rosto:
— Eu posso saber o motivo dessa festa? Porque eu também estou querendo participar.
Disse Kowalsk ao se levantar, dando uma cabeçada nos dois soldados que o estavam incomodando. Mesmo com as mãos amarradas para trás, o velho soldado golpeou com os pés, derrubando seus adversários com facilidade.
— Parece que temos um valente! Ei, pessoal, reforços!
Gritou o Sargento Dugger, trazendo um monte de soldados que se divertiam cada vez mais espancando Kowalsk.
— Por que vocês estão fazendo isso comigo? Eu achei que nossa prioridade era ajudar aos seres humanos a sobreviver nessa era de dragões. Também pensei que uma das principais prioridades era procurar por mais sobreviventes para aumentar a força do exército até sermos pareos para um dragão. Mas pelo que eu estou vendo aqui, a diversão de vocês é justamente fazer com que os seus semelhantes sofram. Não acham que nós já temos dor suficiente, enfrentando os dragões?
— Cale sua boca, seu velho pangaré! Quem você pensa que é para ficar querendo dar uma lição de moral na gente? Quantos dragões você já derrotou? Quantas pessoas você já resgatou ou quantas lutas você teve para que possa vir com essa moral toda e cantando de galo pra cima da gente?
— Eu não sei quem é você, franguito, mas o meu assunto é com o Coronel Cleaner. Então, se você já se cansou de me bater e puder fazer a gentileza de passar meu recado a ele, só avise que Kowalsk está aqui e quer ter uma conversa muito séria com ele.
Aquela ousada declaração fez com que a situação de Kowalsk ficasse ainda pior. Mais soldados que entraram em sua cela juntaram força e recomeçaram a espancá-lo:
— Vamos ver o quão valente você será depois de ser amaciado pelos meus homens.
Kowalsk podia ser um excelente lutador, mas amarrado como estava, era difícil bloquear todos os golpes. Até o presente momento, ele poderia sair dali facilmente se quisesse, mas a sua preocupação era com Thilláila, que ele não sabia onde estava.
— Então, agora você está pronto para ouvir ou ainda quer impor a sua moral para cima da gente?
— Por favor, pare com isso. Eu preciso mesmo falar com o Coronel Cleaner.
— O único com quem você vai falar aqui é comigo, e eu não estou afim de ouvir. Batam nele, rapazes. Mostrem como é que faz os homens do Último Refúgio, a base do nosso incrível Coronel Cleaner.
Depois de 5 minutos, Kowalsk decidiu perguntar:
— Já que vocês estão tão ocupados aqui, não poderiam ao menos me responder o que fizeram com a minha amiga?
— Ah, então tá querendo dizer que aquela linda e frágil jovem é a sua amiga? Não se preocupa com isso não. Nós já temos uma diversão agendada com ela. Primeiro eu, depois o que sobrar será servido aos meus amigos. Afinal de contas, nessa base não tem mulher nenhuma mesmo, então pode se dizer que você trouxe um presente para nós.
— Posso saber qual é o seu nome, soldado?
Perguntou Kowalsk bem sério.
— Sou Sargento Dugger para você, mas isso não vai importar muito porque o seu destino será igual ao de tantos outros que quiseram nos enganar.
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