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3.06% Filha da Bruxa e o Filho do Diabo / Chapter 17: Traga os Culpados

Capítulo 17: Traga os Culpados

— Por que Vossa Majestade nunca viu o rosto de sua própria filha? — perguntou Martha.

A questão de Martha fez com que o Rei Armen se lembrasse da amarga verdade sobre sua filha mais nova. Que infelicidade não poder ver o rosto de sua filha nem mesmo uma vez. Como pai, era um dos maiores arrependimentos que tinha em sua vida.

Ele ainda conseguia se lembrar de quando a segurou em seus braços recém-nascida, e apesar de desejar ardentemente ter um vislumbre de sua aparência, nunca teve a chance. Aquele véu na parte inferior de seu rosto há muito estava ali para protegê-la, e ele não ousava tirá-lo.

Tudo o que se lembrava era daquele par de olhos roxos inocentes. Eram as joias mais lindas que já vira, e seu coração havia sido capturado à primeira vista. Estranhamente, esses olhos encantadores nos quais ele pensava com carinho eram os mesmos olhos que faziam as pessoas amaldiçoá-la e chamá-la de bruxa.

A inocência daqueles olhos, como se pedissem pelo cuidado e amor de seu pai, sua voz suave de choro e o jeito como aquela mãozinha de bebê segurava seu dedo, essas eram as melhores memórias que ele tinha de sua filha mais nova, Seren.

Melancólico, o Rei disse: — Direi a Cian para nunca deixá-la sem o véu. Ele se importa com ela, então obedecerá o meu desejo.

Martha abaixou a cabeça enquanto suspirava. — E se minha senhora tirá-lo um dia? Sabemos quem ela realmente é e nenhum poder ou magia comum poderá detê-la por muito tempo. Ela é ingênua e jovem agora, por isso obedece o que dizemos, mas chegará um momento em que começará a pensar por si mesma e a fazer o que deseja.

As palavras dela aumentaram as preocupações do rei. — Não me importo com quem ela é. Para mim, ela é e sempre será minha filha, e eu preciso protegê-la.

— Mantê-la trancada e tirar sua liberdade não é o modo de protegê-la, Vossa Majestade. Isso só a tornará fraca, incapaz de se defender quando chegar a hora de enfrentar as dificuldades de sua identidade. Tudo funcionou bem quando ela era jovem, mas agora cresceu e busca encontrar o significado de sua vida e seu futuro.

— O futuro dela não pode ser como o de outras garotas comuns — o Rei de Abetha retrucou sombriamente.

— Não sabemos o que o futuro trará, mas com a realidade de seu nascimento; tenho certeza de que a vida dela é destinada para um propósito maior.

Com sua conversa com Martha andando em círculos, o Rei precisou massagear suas têmporas doloridas. — Não há outro caminho? O que sugere que eu faça?

— Vossa Majestade, por favor deixe a Terceira Princesa sair e permita que ela interaja com as pessoas — sugeriu Martha.

O Rei imediatamente rejeitou a ideia. — Impossível! E se eles a machucarem?

— Eles não podem. Isso ficou claro a partir do que aconteceu hoje. Suas maldições estão lá para protegê-la.

O Rei suspirou ao lembrar suas próprias experiências de juventude. Nascido na Casa Real de Ilven, o jovem Armen conheceu incontáveis pessoas de todas as camadas sociais. Mesmo depois de ter reclamado o trono e se tornado o Rei de Abetha, sua vida nunca foi tranquila devido às lutas pelo poder dentro e fora do reino. A dura realidade desse chamado mundo humano poderia ser demais para sua filha mais nova suportar. — Os humanos são criaturas vis. Eles podem fazer qualquer coisa.

— A solução é mantê-la ao lado de alguém, e esse alguém deve ser uma pessoa em quem podemos confiar para ser capaz de protegê-la — disse Martha.

Sua declaração deixou o Rei intrigado. Ele nunca poderia deixar alguém ficar ao lado de sua filha. Martha era uma exceção.

— O que quer dizer? — ele perguntou friamente.

— Alguém que será leal a ela assim como nós somos e que não se importará com quem ela é. Além disso, essa pessoa deve estar pronta para sacrificar sua vida por ela — respondeu Martha.

— Onde podemos encontrar tal pessoa? — perguntou o Rei.

— Não precisamos encontrar uma pessoa assim. Deixemos o destino seguir seu curso. Quem quer que seja encontrará ela por conta própria.

O Rei Armen considerou suas palavras por um momento. Martha era alguém que se importava com Seren mais do que com sua própria vida, então ele confiava em tudo o que ela decidia para sua filha.

— Vou pensar sobre o que você disse — assegurou o Rei.

— Então, Vossa Majestade, peço licença. Devo partir, pois minha senhora está sozinha e assustada — disse Martha.

O Rei acenou levemente, concedendo a ela permissão para sair.

Curvando-se para ele, Martha saiu enquanto o Rei Armen retornou às suas reflexões sobre o bem-estar de sua filha mais nova.

Após algum tempo, dois anciãos oficiais entraram na sala e fizeram uma reverência ao rei preocupado. Um deles era um homem de cabelos grisalhos em um uniforme azul-escuro, enquanto seu companheiro muito mais velho parecia um estudioso com sua longa barba branca e óculos de leitura.

Eles eram os homens mais leais do Rei de Abetha, Sir Berolt, comandante dos cavaleiros, e Lord Eudes, conselheiro de confiança do rei.

— Vossa Majestade parece preocupado — observou Lord Eudes após um leve tossido.

O Rei Armen acenou levemente e olhou para Sir Berolt. — Como você disse, o Rei de Megaris salvou a Terceira Princesa. Ele sabe quem ele salvou naquele momento?

— Não tenho certeza, mas ele não se preocupou em perguntar na época. Parece ser um ato de bondade para com a mais fraca — respondeu Sir Berolt.

O Rei Armen deu um suspiro de alívio. — Não deixe que ele se aproxime da torre novamente — ordenou.

— Posso perguntar por que Vossa Majestade está tão preocupado em não deixá-lo vê-la? — perguntou Lord Eudes.

— Dizem que ele é o filho do diabo, e todos já ouvimos falar de sua crueldade. Ele é conhecido por seu hábito de ir contra os outros e perseguir algo que não deveria. Não quero que a Terceira Princesa se torne um de seus brinquedinhos curiosos. Minha filha não é um espetáculo para seu entretenimento. — respondeu o Rei.

Os dois compreenderam a preocupação do Rei. — Entendido, Vossa Majestade.

Olhando para o rei preocupado, Sir Berolt perguntou: — O que devemos fazer com o incidente do fogo durante a cerimônia de noivado da Segunda Princesa?

— Vocês pegaram o culpado? — o Rei perguntou.

Sir Berolt assentiu. — Após a investigação, descobrimos que a culpada era uma serva da câmara da Rainha. Ela confessou que odiava a bruxa, por isso fez tudo por conta própria.

O Rei suspirou novamente e fechou os olhos. Ele podia inferir claramente a verdade, mas como sempre, tinha de a enterrar pelo bem da paz. 'Humanos são criaturas vis, de fato.'

— Punam-na com o que ela merece — ordenou o Rei.

— Sim, Vossa Majestade.

— Peguem todos os responsáveis pelo incidente de hoje — ordenou o Rei, enquanto sua voz se tornava mais fria. — Talvez eu tenha estado um pouco relaxado ultimamente, ao ponto das pessoas de Abetha esquecerem o que significa ferir uma princesa da Casa Real de Ilven.

— Não será fácil, pois os membros da corte real vão culpar novamente a Terceira Princesa por aquilo que acham que ela é. Se punirmos todas as pessoas envolvidas, não apenas a incendiária, a opinião pública se voltará contra a família real com o que Vossa Majestade planeja fazer — veio a opinião honesta do conselheiro, Lord Eudes.

— Desta vez, não me importarei em usar isso — disse Sir Berolt friamente enquanto segurava o cabo de sua espada.

Lord Eudes olhou para o bárbaro Sir Berolt, que apenas queria um motivo para liberar sua espada da bainha.

— O reino é feito por nobres e plebeus juntos e não apenas pelo rei, então precisamos pensar cuidadosamente ao executar pessoas. A Terceira Princesa sempre foi um assunto delicado na corte. Não será bom dar uma oportunidade àqueles que estão desesperadamente esperando para derrubar Vossa Majestade e tomar o trono para si mesmos.

— Uma vez limpemos a sujeira da corte real, ninguém jamais ousará ir contra Vossa Majestade — anunciou Sir Berolt com determinação.

— Então ninguém jamais confiará em Vossa Majestade e no Príncipe Herdeiro Cian. Estabelecer medo não é o jeito de lidar com eles. Se lhes dermos a chance, no futuro, encontrarão uma justificativa para se rebelar contra a coroa — disse Lord Eudes novamente, sua voz paciente e seu rosto calmo contra o teimoso e frio Sir Berolt.

Esses dois homens eram ambos grandes pilares de Abetha, mas eram como gelo e fogo no momento, incapazes de convencer um ao outro sobre a melhor abordagem para resolver os conflitos internos do reino.

O Rei Armen caminhou em direção ao trono e sentou-se regiamente. Seu rosto estava frio como gelo.

— Eu decidirei o que fazer com eles. Independentemente de seu status, apenas tragam os culpados até mim — disse.


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