LETTIE
A terra tremeu violentamente.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! — exclamou Yamcha. — DE QUEM É ESSE KI???
— São os mesmos tremores que sentimos em Namekusei! — completou Bulma, estatelada no chão.
— E se for mesmo o meu pai? — Gohan encarou eu e Piccolo, agarrado à minha perna para se equilibrar. — É o mesmo Ki de quando ele se transformou em Super Saiyajin! Lembra, Sr. Piccolo?
Antes que ele pudesse respondê-lo, Vegeta se manifestou, indignadíssimo:
— Outro Super Saiyajin além de Kakarotto?! Isso é impossível!!! — O tom de sua voz era carregado de inveja e desdém, e seu olhar, cheio de raiva. Aposto que não admitia que poderia haver dois Saiyajins mais poderosos que ele.
Ao meu lado, Piccolo não estava nada bem. Parecia cada vez mais ansioso diante a ameaça maligna de Freeza. Eu daria tudo para saber o que se passava na sua cabeça, saber o que o afligia tanto.
Como desejei que ele se abrisse mais para mim.
Um clarão então despontou detrás do monte que nos separava de Freeza, e uma gigantesca explosão ecoou.
— Será que a luta começou? — indagou Vegeta.
— Droga! Vamos logo! — Kuririn levantou voo, mas Vegeta o pegou pelo pulso.
— Não voe! Eu já avisei que esses caras têm rastreadores! Se nos encontrarem, estaremos perdidos! Se quiser chegar perto, terá que ir andando, ENTENDEU??? — E tacou Kuririn no chão com violência, que caiu num baque dolorido.
— Kuririn! — Me abaixei para socorrê-lo, com Gohan também ajudando. Virei minha cabeça para Vegeta e vociferei: — Qual é o seu problema?! Pra quê ser tão bruto assim? O que ganha com isso?
— Não se intrometa na minha vida, sua imprestável! — retrucou ele. — Acha que tem alguma moral para falar comigo? EU SOU O PRÍNCIPE DOS SAIYAJINS! Você não passa de uma ralé de terceira classe que fica perdendo tempo com uma bebê inútil ao invés de se preocupar em ficar mais forte!
Uma sequência de arquejos incrédulos seguiu-se a sua declaração. No entanto, antes que eu tivesse tempo de sentir o meu sangue ferver, Piccolo voou pra cima do pescoço de Vegeta e o ameaçou, entredentes:
— Escute minhas palavras, porque não vou repetir: se deseja que sua preciosa linhagem real não termine aqui e agora, acho bom você engolir a sua língua de trapo e guardar suas opiniões para si. Está avisado. — E o empurrou para longe.
Rodeados por um silêncio constrangedor, Piccolo voltou ao meu lado e ajudou Kuririn a se por de pé. Em seguida, afagou minhas costas para me acalmar. Foi só quando senti seu toque que percebi o quanto eu tremia, ainda remoendo o que Vegeta disse contra minha filhinha.
— Escute, Lettie e Gohan… — Kuririn começou a falar, provavelmente para acalmar os ânimos do nosso grupo. — Vocês não receberam mesmo nenhuma notícia de Goku? Têm alguma ideia do que possa estar fazendo?
— D-Desculpe, Kuririn… — Eu dava o meu máximo para não transparecer o nervosismo que eu ainda sentia. Me recompus e então, encarei Vegeta com profundo desprezo. — A última vez que vi meu irmão foi quando ele te pediu para deixar Vegeta fugir.
Todos se viraram para o "Príncipe dos Saiyajins".
Parecia que eu não era a única ali que achava que Goku tinha cometido um erro. Ainda mais entre os guerreiros que lutaram contra Nappa e Vegeta.
— Bom, isso é mesmo humilhante — disse Kuririn. — Pelo visto, não podemos fazer mais nada agora. Quando Goku voltar, pode ser que a Terra nem esteja mais aqui. Droga!
Fez-se silêncio. Após ouvir o que Kuririn disse, Piccolo carinhosamente me trouxe um pouco mais para perto de si.
— Ei, Vegeta! — chamou Bulma. — Você já teve experiência com os capangas de Freeza. Será que você não consegue lutar com eles?
— AH, CALE A SUA BOCA! — respondeu ele. — Se não quiser morrer conosco, é melhor ir embora! Você já conseguiu voltar de Namekusei. Não importa o quão imbecil você seja, deve entender a situação em que estamos agora.
— Como é que é?! Imbecil??? — Bulma colocou a mão no peito.
Eu e Piccolo trocamos olhares tediosos. Lá vamos nós de novo…
— Vegeta — disse Yamcha —, você não pode acusar a Bulma de imbecil.
— Isso mesmo! Me defende!
— A Bulma só é a maior besta-quadrada da Terra — continuou Yamcha, com um sorriso divertido. — Sem mencionar que é incontrolável.
— Que absurdo! — Bulma puxou a orelha dele. — De que lado você está, afinal?
— É brincadeirinha! — Riu ele. — Só estou tentando amenizar o clima mórbido do grupo!
Pelo visto, a ideia de Yamcha funcionou. Gohan achou a maior graça da piada e riu com sua vozinha fofa e infantil. Sua risada logo contagiou a todos (menos Vegeta, é claro).
— Ah, puxa… — suspirou Kuririn. — Sabe, pessoal… Essa pode ser a última vez que rimos juntos…
Sua constatação fez o clima mórbido retornar e o humor de Vegeta piorar, pois ele soltou um grunhido irritado e disparou a correr em direção à fumaça da explosão que subia pesada até os céus.
Todos correram atrás dele. Conforme avançávamos, sentíamos outros pequenos tremores sacudirem a terra sob os nossos pés. Mas ainda faltava muito para alcançarmos o verdadeiro campo de batalha.
Quando chegamos ao topo de uma formação rochosa, avistamos, lá longe, uma fortíssima e gigantesca bola de luz alaranjada.
Sua energia equivalia a dezenas de bombas atômicas.
— O QUE É ISSO?!?!?! — exclamei, horrorizada.
— TODOS PARA O CHÃO!!! — gritou Kuririn.
Mal tive tempo de agarrar Gohan para junto de mim quando Piccolo nos jogou contra o chão, nos protegendo com o seu corpo e nos cobrindo com sua capa.
Ouvimos a bola de energia emitir um som estranho, mas ela não explodiu. Outra coisa pareceu tê-la atingido, causando uma violenta onda de choque contra todos nós. E então, ela se extinguiu. Evaporou como se nunca tivesse existido, só deixando um traço de fumaça escura, muito maior que a anterior.
Piccolo ajudou eu e Gohan a nos levantarmos, perguntando se estávamos bem. Do mesmo modo que fizemos na batalha contra os Saiyajins, nós três inspecionamos um ao outro. Felizmente, ninguém foi ferido.
— Oh! — Gohan apontou para os céus. — O que é aquilo?
Erguemos nossos olhares e avistamos três figuras pairando lá no alto. Todos arquejaram, num sobressalto. Uma daquelas figuras segurava uma grande espada em estilo medieval, e seus cabelos emitiam um intenso brilho amarelado.
Meu coração falhou por um instante ao contemplar tal visão, mesmo que de tão longe. Então… aquilo era um Super Saiyajin?!
Confirmando meus pensamentos, o Super Saiyajin se mexeu num golpe rápido e cortou a figura à sua frente em dezenas de pedacinhos. Em seguida, lançou um raio de energia que desintegrou seu alvo por completo.
Um forte cheiro de carne e metal queimado preencheu aquela região. Não era nem preciso olhar para os outros para eu saber como todos estavam em pleno estado de estupefação.
— Se não estou vendo coisas — disse Vegeta —, o cara que foi exterminado era… Freeza!
Uma sequência de burburinhos e exclamações incrédulas tomou conta do grupo.
— Esse Super Saiyajin fez o poderoso Freeza em pedaços em poucos segundos! — exclamou Kuririn.
— É verdade, Piccolo?! — Virei-me para ele, perplexa. — Aquele era mesmo o Freeza?
— Sim… — Seus olhos vidrados ainda miravam os restos mortais, que lentamente caíam até o chão. — Era ele mesmo. Seu Ki… desapareceu por completo!
— Não resta dúvida que nosso amigo Goku voltou bastante forte! — comentou Bulma. — Eliminou o maldito do Freeza num piscar de olhos! Ahh, que ótimo! A Terra está salva de novo!
— Bulma, ainda não entendeu? — replicou Tenshinhan. — Aquele homem não é Goku! Com certeza é um Super Saiyajin, mas–
Tenshinhan não conseguiu finalizar, pois Vegeta grunhiu em impaciência e, contrário ao que recomendou há pouco, levantou voo para se aproximar do conflito.
— Lettie, Gohan, venham, rápido! — alertou Piccolo, e nós os seguimos. Logo, todos voavam em direção ao Super Saiyajin, com Bulma dando gritinhos no colo de Yamcha.
Ao nos aproximarmos, levamos outro susto. O Super Saiyajin lançou um raio de energia bem no meio do peito da figura restante, a qual identifiquei como um gigantesco lagarto roxo de armadura preta. O lagartão agonizou por um momento no chão, implorando por sua vida e até mesmo oferecendo todos os planetas do seu sistema solar. Mas, o misterioso Super Saiyajin o ignorou e o explodiu com outro golpe certeiro. Em seguida, virou-se para a espaçonave de Freeza e também a destruiu.
— M-Mas, quem é esse cara? — sussurrei, fitando aquele Super Saiyajin parado no topo de um morro.
— E-Ele… — acrescentou Piccolo; sua voz tão fraca quanto a minha. — Ele é apenas um garoto!
Piccolo tinha razão. Quando aquele Super Saiyajin voltou ao normal, vimos que não passava de um adolescente. Como aquilo era possível?!
Então, sem mais nem menos, o rapaz virou-se para nós com um grande sorriso e disse:
— Muito bem! A partir de agora, aguardarei a chegada de Son Goku. Querem me acompanhar?
— O QUÊ?! — Foi a resposta unânime.
— C-Como conhece o meu pai? — perguntou Gohan, abismado.
— Venham! Sigam-me por aqui! — O rapaz apontou em uma direção. — Dentro de poucas horas, Goku chegará!
Silêncio.
— Quem é ele? — indagou Piccolo num sussurro, falando consigo mesmo. Ele estava muito tenso, com o olhar mais sombrio do que antes.
— Son Goku chegará em três horas — declarou o rapaz. — Por favor, sigam-me!
Mesmo incertos sobre sua identidade, fizemos o que ele pediu. Afinal, ele havia derrotado aquele tal de Freeza com um só golpe. Aquilo tinha que contar como alguma coisa! Além de que, eu podia sentir uma energia boa emanando dele.
O seguimos por alguns minutos naquela paisagem desértica, até pararmos num ponto rodeado por rochas despontando aqui e ali. Finalmente, pude ver de perto aquele rapaz.
De fato, era um adolescente. Usava um conjunto preto, com uma jaqueta curta roxa e pesadas botas amarelas. Nas costas, sua grande espada estava presa por uma bainha laranja. Olhei com atenção para o seu rosto. Tinha uma feição nervosa, mas, seus olhos azuis revelavam inocência e gentileza. Fios de cabelo roxo claro preenchiam o topo de sua cabeça.
Ninguém ousava dar um pio. Em silêncio, o rapaz nos olhou com timidez e então, tirou do bolso da jaqueta uma pequena caixa, a qual foi aberta. De lá, ele pegou o que parecia um objeto cilíndrico e o jogou no chão. Todos pularam de susto quando o cilindro explodiu e, no seu lugar, um frigobar apareceu.
O frigobar mais futurista que já vi.
Confusos, o observamos ir até o frigobar e pegar uma latinha de refrigerante.
— Ainda temos muito tempo até Goku chegar. — Ele sorriu. — Tenho bebidas aqui, e está bem quente. Por favor, sirvam-se. Fiquem à vontade. — E abriu sua latinha e tomou um grande gole.
Eu e Piccolo trocamos olhares confusos. Já Gohan, ficou super animado com a perspectiva de tomar algo gelado diante o calor desértico.
— Bom, eu aceito! — Bulma foi até o rapaz.
— Eu também quero! — Gohan correu atrás dela.
— Ei! Gohan, espere! — Tentei alcançá-lo, mas ele escapou das minhas mãos. Piccolo também não ficou nada contente com sua atitude tão impulsiva. Mas, fazer o quê? Gohan era só uma criança com a oportunidade de tomar um refrigerante que literalmente explodiu do chão.
— Bom… — suspirei. — Acho que não faz mal tomar apenas um gole, não acha? — Me pus a caminhar, mas Piccolo me parou.
— Espere. Não sabemos quem é esse garoto. E se tiver alguma coisa dentro dessas bebidas? Algo… — Seus olhos escureceram. — Mortal ou… sei lá!
Como sempre, desde que voltou para a Terra, Piccolo parecia esconder algo que não queria me dizer. No entanto, com delicadeza, toquei sua mão.
— Acho que não corremos perigo. Sinto bondade nele, e você?
Relutante, Piccolo bufou e, por fim, respondeu:
— Tá, tá! Que coisa…
Todos agora rodeavam o rapaz, cada um com uma bebida nas mãos (Piccolo se recusou a tomar). O refrigerante era muito delicioso. Nunca vi nada parecido no mercado. Deveria ser alguma marca nova.
— Escuta… — Bulma o analisou com atenção. — A gente já se encontrou em algum lugar antes? Você me parece familiar…
— E-E-Eu?! — exclamou ele. — Não. De forma alguma!
— Como você conhece o meu pai? — inquiriu Gohan.
— Na verdade, eu nunca vi o seu pai. — O rapaz sorriu. — Mas já ouvi muitas histórias sobre ele.
— Então, como sabe que meu irmão chegará aqui em três horas? — perguntei.
— Me desculpe. — Ele baixou a cabeça. — Mas não posso falar.
— Como assim, "não pode falar"?! — Vegeta deu um passo a frente. Ele também não tomava nenhuma bebida. — Quem é você, afinal??? Como conseguiu seus poderes???
Ao olhar para Vegeta, o rapaz ficou ainda mais ansioso.
— Sinto muito mesmo, mas não posso contar.
Piccolo se remexeu em desconforto atrás de mim e Gohan; como um anjo da guarda pronto para entrar em ação a qualquer momento. Achei melhor continuar conversando para amenizar o clima tenso:
— Quando você derrotou Freeza, estava na forma de Super Saiyajin, correto?
— E-Eu… — Ele evitava nossos olhares. — Hã… Sim, foi isso mesmo.
— Que piada! — irou-se Vegeta. — Os únicos Saiyajins que existem no Universo somos eu, Kakarotto (conhecido na Terra como Son Goku), esse menino que é o filho mestiço dele, e essa mulherzinha aqui, sua irmã mais nova! Por isso, é IMPOSSÍVEL que você seja um Saiyajin!
Apesar do jeito depreciativo que Vegeta falou sobre Gohan e eu (o qual fez Piccolo bufar de raiva), ele tinha um ponto. De onde veio aquele Saiyajin? Não estávamos extintos?
— Mas, todos vimos como ele se transformou em Super Saiyajin para derrotar Freeza — alegou Gohan. Meu sobrinho também tinha um ponto.
— Não interessa — rebateu Vegeta. — E outra, normalmente, os Saiyajins têm cabelos pretos. Olhem só o cabelo desse aí! Parece que tomou um banho de lavanda e saiu essa porcaria!
O rapaz ficou muito constrangido com o comentário de Vegeta. Estava cada vez mais difícil suportá-lo. Eu sentia uma constante irritação emanando de mim e dos outros guerreiros. Piccolo o fuzilava com o olhar. Yamcha parecia querer se enterrar no chão. Tenshinhan deliberadamente revirou os três olhos em impaciência, ao passo que Kuririn coçou tanto sua careca, que ficou vermelha. Já eu, tive vontade de chutar o seu saco e dizer, "Ops! Foi sem querer!"
— Olha só! — Bulma apontou para um símbolo bordado na jaqueta do rapaz. — É o logotipo da minha empresa, Corporação Cápsula. Por que está usando? Você é algum funcionário nosso?
— Não. — Ele esboçou um pequeno sorriso. — Não sou um funcionário.
— Ah, isso também é um segredo? — replicou Bulma. — Então você não vai nos revelar nem o seu nome nem a sua idade?
— Não posso dizer o meu nome, mas tenho dezessete anos.
Apenas dezessete e já derrotou um cara tão poderoso quanto Freeza?! Puxa… impressionante! Quem me dera, ser tão forte assim nos meus dezessete anos. Tenho certeza de que eu teria ganhado todos os Torneios Clandestinos que já participei.
Começou um burburinho entre os guerreiros sobre todo o mistério envolvendo aquele rapaz e o fato de não poder revelar sua identidade. Confesso que, apesar de realmente ser tudo muito suspeito, fiquei com pena dele. Estava muito acanhado com aquele bombardeio de perguntas.
— Ora, parem de aborrecê-lo! — disse Bulma. — Não esqueçam que ele acabou de salvar a Terra da ameaça do Freeza!
Dito isso, ela deu uma piscadela para o rapaz, que ficou vermelho e desviou o olhar. Bulma também parecia despertar algo nele, mas, o quê?
Para disfarçar, ele veio a mim e disse:
— Vejo que terminou sua bebida, Sra. Lettie. — Ele gentilmente pegou minha latinha vazia. — Aceita outra? Tenho uma aqui, sabor chocolate, bem doce. A senhora gosta, não é?
Meio atordoada, acabei aceitando a nova bebida (era mesmo uma delícia!), mas, como ele sabia que eu gostava de chocolate bem doce?
Estranho… Muito estranho…
De qualquer maneira, não adiantava nada ficarmos ali pressionando-o. Caso ele estivesse falando a verdade, Goku só chegaria dali a três horas. Por isso, nosso grupo se dispersou e cada um foi para um canto, presos em seus pensamentos.
Como toda criança, Gohan não aguentou ficar parado e ficou zanzando de uma pessoa a outra, puxando assunto e brincando. Já eu e Piccolo, nos sentamos sobre o platô de uma rocha a uma distância, um de costas para o outro para nos apoiarmos.
— Lettie, está dormindo? — perguntou Piccolo após vários minutos de silêncio.
— Meu querido — eu disse após um bocejo —, eu trabalho de segunda a sábado sem parar, tenho uma bebê para criar, uma casa para cuidar e vários boletos para pagar. Se eu sentar em qualquer canto, eu durmo.
Piccolo riu. De fato, eu estava quase pegando no sono. A junção da bebida doce mais a textura aconchegante da capa de Piccolo e a temperatura quente das suas costas me causou uma agradável sensação de letargia. Porém, um mosquito chato me picou no pescoço e o tapa que me dei me despertou.
— Obrigada por me defender do que Vegeta disse sobre eu e Naíma — eu disse, visto que perdi o sono.
— Ele não passa de um imbecil egoísta. — Piccolo virou a cabeça para me olhar. Seu tom ficou receoso: — Você… Você se ofendeu com o que ele lhe disse?
— Não. Eu não preciso me provar para ninguém. — Pausei por um instante e baixei os ombros. — Mas confesso que ele me fez ficar pensativa. Sabe, não me arrependo de ter aberto minha Escola, muito menos de ter adotado Naíma, de modo algum! Tenho profundo orgulho disso. Entretanto, não posso negar que não estou conseguindo treinar como gostaria. Dar aulas para crianças e adolescentes não é a mesma coisa do que treinar pra valer como fazíamos no nosso Treinamento. Sinto falta de toda a ação e exercícios pesados. Sinto falta de me sentir uma guerreira Saiyajin. Mas, eu simplesmente não tenho tempo, Piccolo! Me diga, onde encontrarei uma brecha na minha rotina para treinar? O único tempo que tenho é aos fins de semana, mas acho importante dedicá-los para ficar com Naíma, Gohan e… com você.
O clima entre nós ficou constrangedor, e permanecemos em silêncio por um momento. Vi como Piccolo enrubesceu com minha declaração. Droga. Será que eu deveria ter dito aquilo em voz alta?
De qualquer forma, ele limpou a garganta e continuou o assunto:
— Escuta, Lettie, como você mesma disse, você agora tem muitas responsabilidades que não tinha na época do nosso Treinamento. É normal que se sinta sobrecarregada e não consiga fazer tudo o que quer. — Ele sentou-se ao meu lado para conseguir olhar para mim. — Semana passada, você me disse que estão surgindo cada vez mais alunos, mas não consegue criar novas turmas porque sua agenda está lotada. Hoje, quando deixamos Naíma com a Chi-chi, você comentou que precisava de um professor substituto. Será que não chegou a hora de você… expandir o seu negócio? Contrate um professor para dividir suas turmas, assim, você terá mais tempo livre e, consequentemente, ganhará mais dinheiro com mais um professor na sua Escola.
— Acha mesmo?
— Claro. Veja bem. Sei que você sempre guarda uma parte do que ganha. Aposto que tem o suficiente para construir outro anexo na sua casa. Em pouco tempo, com as novas turmas, você recupera o dinheiro investido para a reforma. E então, você terá um novo professor para dividir suas turmas e mais tempo livre para treinar à vontade.
Quando Piccolo terminou de falar, me peguei olhando para ele com um ar de admiração. Ele sempre me causava essa sensação. Nunca me esquecerei quando ele deu a ideia de eu virar professora na noite em que Gohan se perdeu em nosso Treinamento. Nunca ninguém tinha acreditado tanto no meu potencial.
Piccolo me fazia sentir que eu poderia fazer qualquer coisa no mundo.
Em resposta, sorri para ele e apertei o seu braço.
— Você é o homem mais inteligente de todas as galáxias, sabia? — eu disse com um sorriso bobo.
— Vou fingir que acredito. — Ele retribuiu meu sorriso e nossos olhares se encontraram.
Por um momento, apenas por um ínfimo momento, pareceu que não havia nada de errado entre a gente. Ah, como desejei ser tomada pelos seus braços protetores! Como desejei que nada tivesse mudado desde sua morte e agora fôssemos uma família, com a nossa filhinha nos esperando para voltarmos com o Tio Goku.
Mas então, Piccolo desviou o olhar e voltou a exibir a mesma preocupação que mostrou desde que chegou na Terra. Meu coração se apertou em angústia ao vê-lo assim.
Contudo, sou uma mulher muito, muito paciente e decidi não dizer mais nada.
As três horas se passaram. O rapaz se levantou de onde estava sentado e declarou:
— Certo! — Ele consultou um relógio de pulso. — Goku deve chegar a qualquer momento agora.
Todos se levantaram num pulo. A hora da verdade se aproximava. Ou aquele rapaz era uma fraude, ou meu irmão de fato apareceria.
De repente, arquejamos.
— E-Estou sentindo o Ki de Goku!!! — exclamei sem conseguir me conter.
Vozes se sobressaíram umas as outras enquanto cada um dizia o quanto também conseguia sentir o Ki dele se aproximando.
— Então… — Bulma olhou para o rapaz, abismada. — Ele não mentiu pra gente! Como isso é possível?! Como pôde adivinhar isso?!
— É O MEU PAI!!! É O MEU PAI!!! — Gohan tremia em pura empolgação ao meu lado. Me peguei sentindo lágrimas brotarem em meus olhos diante da perspectiva de reencontrar o meu irmão. Será que enfim teríamos uma chance de nos conhecermos melhor? Teríamos a oportunidade de passar um tempo juntos? Nunca desejei tanto contratar um professor substituto o mais rápido possível para eu ter mais tempo livre para a minha família!
Olhei para o rapaz, que contemplava os céus com um pequeno sorriso. Eu sabia que tinha algo de especial nele! Não importava quem ele fosse, eu já gostava dele.
— ELE CHEGOU!!!!!!! — Gohan apontou para um pontinho brilhante no céu.
Uma cápsula descia veloz, entrecortando as nuvens brancas, soltando faíscas como se fosse uma estrela-cadente. A cápsula passou voando pelo nosso grupo, causando uma onda de vento que fez nossos cabelos e roupas balançarem.
E então… BUM!!! — O pouso da cápsula causou um estrondo.
Fez-se silêncio. Fumaça marrom subia adiante.
Gohan disparou em direção ao local do pouso. Fui a primeira a segui-lo, e os demais logo correram atrás. Uma atmosfera de esperança pairava sobre nós.
Quando paramos na beirada da cratera que a cápsula formou, todos ofegavam, ansiosos. O rapaz parou bem ao meu lado e sorriu para mim e Piccolo.
Lentamente, a cápsula se abriu, e lá de dentro, ele surgiu, com aquela mesma cara de inocente que todos conheciam:
Goku.
Obrigada por ler mais um capítulo!
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