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52.77% A Herança Saiyajin e a Solidão do Guerreiro / Chapter 19: Capítulo 18

Capítulo 19: Capítulo 18

PICCOLO

O ar puro do planeta Terra preencheu os meus pulmões. 

Era maravilhoso e aterrorizante ao mesmo tempo.

Sim. Eu ressuscitei. Estou de volta. Graças às Esferas do Dragão de Namekusei, meu planeta natal.

Inclusive, todo o meu povo também veio para a Terra comigo. Nosso planeta foi destruído por Freeza, um esquisitão imbecil que se achava o Imperador das Galáxias, e precisamos fugir numa espaçonave e viajar pelo Universo até chegarmos aqui enquanto Goku tentava impedi-lo.

É uma longa história. Mas, não se preocupe. Você saberá tudo o que aconteceu no tempo certo. A única coisa que precisa saber no momento é que eu e meu povo estávamos num bosque qualquer de alguma parte do mundo, com nossa espaçonave projetando-se por entre as árvores no local que pousou horas atrás.

Gohan estava ao meu lado. Apenas a sua presença já era o suficiente para deixar meu coração mais leve em meio a tanta tribulação que eu sentia.

Ele estava um pouco mais crescido e brincava com um garoto Namekuseijin mais novo, ambos celebrando nossa chegada à Terra. O garoto se chamava Dendê. Este fato me apavorava, pois me lembrava muito bem de como esse Dendê fora um tema muito debatido no sonho da minha morte.

— Sr. Piccolo! — Gohan virou-se para mim com um grande sorriso. — Aposto que a Tia Lettie ficará super feliz em te ver de novo! Ela ainda não sabe que você ressuscitou, não é?

Lettie.

Ao ouvir aquele nome, meus músculos se enrijeceram e um intenso frio na barriga me acometeu. 

— S-Sim… — respondi, forçando um meio sorriso. — Acredito que ela ficará bem feliz.

— Por que não vai visitá-la agora? — sugeriu ele. — Pode ir. A Bulma já está resolvendo com seus pais como vai acomodar seu povo aqui na Terra enquanto eles ainda não têm um novo planeta para morar.

Ponderei sua sugestão e meu coração apertou.

Não, Piccolo. Não faça isso. Não vá até Lettie.

No entanto, contra minha vontade e razão, minha boca se abriu e respondi:

— Certo, Gohan. Vou procurá-la. Volto depois para ver se estão todos bem. Até logo.

Quando menos percebi, eu já tinha levantado voo e rastreava o Ki de Lettie.

Droga! Por que fez isso, Piccolo??? Está louco?!

Por mais que meu conflito interno gritasse em meu íntimo para eu dar as costas e me esconder na montanha mais erma da Terra, não havia como negar. Estar de volta neste planeta significava que eu também a reencontraria. Mais cedo ou mais tarde. Além disso, não seria justo com ela. Lettie tinha o direito de saber que eu estava de volta.

Mas eu não sabia se eu estava preparado para isso.

Faz cerca de sete meses desde que morri naquele campo de batalha contra os Saiyajins; sete meses desde que a vi pela última vez. Muita coisa aconteceu durante este período.

E não houve um dia sequer em que não pensei nela.

Porém, mais do que a imagem de Lettie ocupar meus pensamentos, as apavorantes imagens daquele sonho também vinham até mim, mostrando sem misericórdia os corpos da minha esposa e filhos mortos, e a ameaça da minha completa impotência e incapacidade de salvá-los, arrastando-me para o abismo com eles.

Além, é claro, da voz do meu Inimigo, sibilante como uma serpente maligna, constantemente me massacrando com suas ameaças e terrores. Era como uma praga encrustada em meu cérebro, me assombrando dia e noite, segundo após segundo, sem parar, não me dando nenhuma folga ou respiro de paz.

Desde que fui ressuscitado, essa era a minha rotina. Perturbação, ansiedade e medo eram meus companheiros. O tempo todo.

Só me restou uma única saída: tomar a pior decisão da minha vida.

Se eu insistisse em ficar com Lettie, o único futuro que nos aguardava era o da morte; terrível e cruel morte, minha, dela e dos nossos filhos.

Eu desistiria do meu sonho. Eu o enterraria em meu coração.

Lettie nunca seria minha esposa. Nossos filhos nunca nasceriam.

Este era o peso que eu teria de carregar pelo resto da minha existência; o preço que eu pagaria para a vida, e não a morte, prevalecer.

Eu teria de conviver com Lettie, mas nunca a teria por completo.

Uma pontada atingiu minhas têmporas enquanto eu sobrevoava uma cidade grande atrás do seu Ki. Esbocei uma careta de descontentamento. Faz um tempo que ando sentindo dores de cabeça; pulsantes e latejantes, surgindo quando eu menos queria, sobretudo quando eu ouvia a voz ameaçadora do meu Inimigo.

O fato de eu usar um peso no meu turbante piorava a situação, mas ignorei a dor e continuei na minha busca por Lettie, mesmo eu me advertindo de que estava fazendo uma besteira em revê-la. 

Entretanto, uma necessidade falava mais alto. Eu precisava saber se ela estava bem. Durante os últimos meses que passei com Gohan em nossa espaçonave, perguntei se ele sabia o que havia acontecido com sua tia após a luta contra os Saiyajins. Sua resposta foi negativa. Algumas horas após ele acordar no hospital em que se recuperava, Chi-chi voltou ao seu quarto e contou que Lettie tinha fugido da UTI para resgatar meu corpo morto, o qual ninguém havia se preocupado em pegar.

Depois disso, Gohan partiu para Namekusei e não soube mais do paradeiro de sua tia. Em relação a mim, não consegui ver o que aconteceu com Lettie ou meu corpo, pois estava ocupado percorrendo o Caminho da Serpente no Outro Mundo com os outros guerreiros que morreram, para nos encontrarmos com o Sr. Kaioh.

Lettie colocou a saúde em risco por minha causa. Se arriscou para garantir que eu tivesse um funeral digno. Onde ela teria colocado meu corpo? Quando fui ressuscitado, ele já havia sido transferido para Namekusei.

Mas agora isso não importava. Outras perguntas me rondavam. Será que Lettie estava morando nas ruas, como tanto temia? Tinha conseguido um emprego numa Escola de Artes Marciais como professora? Estava saudável e feliz?

Será que… ela sentia a minha falta?

Passou-se quase uma hora até eu finalmente localizá-la. Durante esse tempo, achei melhor ocultar meu Ki para ela não se assustar com minha repentina presença aqui na Terra.

Percorri uma cadeia de montanhas e diversas florestas, até avistar uma casa no topo de uma colina, rodeada por um extenso gramado da minha cor.

Estranho… Por que Lettie estaria nesta casa? Será que minha dor de cabeça afetou minha capacidade de rastreamento?

"Ela já te esqueceu. Outro homem já apareceu em sua vida. Ela nem sequer pensa em você," disse o meu Inimigo.

Um calafrio percorreu minha espinha. Minha pulsação acelerou de pavor.

Calma, Piccolo. Respira fundo…

Quando pousei no gramado em frente a casa, contemplei a varanda de madeira e a fachada.

Meu coração quase saltou no peito.

Não era possível… Não podia ser!

Era a mesma casa em que eu morava com Lettie e nossos filhos no meu sonho. Idêntica, de cima a baixo.

O que aconteceu enquanto estive longe? Não duvido da capacidade de Lettie, mas era muito improvável que ela tivesse conseguido dinheiro o suficiente para comprar uma casa em apenas sete meses.

De qualquer modo, caminhei até as escadas que levavam à varanda. No primeiro degrau, travei. Minhas mãos suaram e precisei secá-las nas calças.

Não faça isso, Piccolo. Dê meia volta e vá embora.

Sacudi a cabeça enquanto enchia as bochechas de ar e o soltava. Então, subi as escadas e, de imediato, um maravilhoso aroma doce me inundou. O que quer que estivesse assando lá dentro, era delicioso.

Sem pensar muito, apertei a campainha.

Chegou a hora.

Droga. Eu parecia um adolescente nervoso. Tremendo dos pés à cabeça. Até me esqueci de contar a você que adquiri a habilidade de ler sentimentos. Foi em Namekusei, ao me fundir com um guerreiro de minha raça no momento de sua morte. Longa história. O importante era que, a partir de agora, tudo o que Lettie sentisse, eu saberia. E eu não fazia ideia se isso seria bom ou não.

Agora, em relação aos meus sentimentos… Bom, quanto mais eu os reprimisse, melhor seria. Eu não poderia correr o risco de me apegar a ela ainda mais. Aquele futuro abominável não poderia acontecer. Nunca.

Ouvi passos lá dentro e o som da televisão sendo desligada. Segundos depois, a porta se abriu, e a vi pela primeira vez após sete meses.

Lettie arregalou os olhos ao me fitar parado na porta. Toda a cor do seu rosto sumiu. Cruzei os braços, curvei meus lábios num sorriso ousado e disse:

— Não acredito que, depois de tudo o que te ensinei, você atendeu a porta sem verificar antes quem tocou a campainha. Lamentável.

Permanecemos ali, mantendo nossos olhares intensos, até que Lettie lentamente caiu para trás, desmaiada no chão.

Ri pelo nariz e me esgueirei porta adentro. Sendo honesto, eu já suspeitava aquele tipo de reação. No entanto, algo aconteceu. Como mágica, assim que pisei no assoalho de madeira interno, conheci cada canto daquela casa. A minha casa. As memórias da parte boa do meu sonho retornaram tão vívidas para mim que era como se eu sempre tivesse morado ali.

Meu coração doeu tanto, mas tanto…

Soltei um suspiro e, sem nenhuma cerimônia, peguei Lettie no colo, da mesma forma que eu fazia quando ela não sabia voar, e a deitei no sofá em frente à televisão. Enquanto eu me encaminhava até a cozinha, transfigurei minhas roupas para tirar a capa e o turbante. Minha dor de cabeça amenizou um pouco. Enchi um copo com água, abri o armário, peguei açúcar e misturei tudo. Antes de retornar para a sala, fui até o forno, analisei o que parecia ser uma torta e desliguei o fogo para não correr o risco de queimar os quitutes de Lettie, pois me lembro muito bem de que, em meu sonho, eu tinha essa infeliz tendência.

Quando me ajoelhei na frente do sofá, tirei carinhosamente uma mecha de seus cabelos curtos dos olhos. Meu peito dilatou ao contemplá-la tão de perto.

Como ela podia estar ainda mais linda desde a última vez que a vi? Um sentimento agridoce se apossou de mim ao ver que ela usava a calça de moletom cinza que eu havia feito para ela no dia que passou mal da menstruação, acompanhada por uma regata branca no torso.

Caramba… Há quanto tempo isso aconteceu?

Mas ela era a mesma Lettie que eu conhecia. Contudo, reparei que algo em seu aspecto, em seu semblante adormecido, denotava mais… maturidade e força.

Piccolo, vá embora. Ainda dá tempo de você fugir. Lettie acordará e pensará que foi apenas uma alucinação.

Por um segundo hesitei, trêmulo. E então, perdendo meu domínio próprio, estiquei o braço e a toquei.

— Lettie? — sussurrei. — Sou eu.

Ela estremeceu e abriu os olhos. Devagar, virou a cabeça para mim e escancarou a boca, mas logo a cobriu para impedir um grito de espanto.

Num pulo, Lettie sentou-se no sofá de um modo tão brusco que esbarrou no copo d'água, derrubando-o em cima do tapete. Ela nem percebeu. Seus olhos estavam fixos em mim. Duas órbitas grandes e azuis, brilhando como as estrelas que tanto vi pelo Universo em minha viagem de volta para a Terra.

Meio atordoado pelo susto, permaneci de joelhos com ela frente a frente comigo, nós dois na mesma altura e a um palmo de distância. Meu coração estava para sair pela boca quando Lettie estendeu a mão e tocou as pontas dos dedos em meu rosto.

— Piccolo… — Uma lágrima caiu do seu olho.

— O-Oi, Lettie… — Engoli saliva ao tentar conter o nó em minha garganta.

Li seus sentimentos. Incredulidade. Alívio. Felicidade. Surpresa. E muito mais.

Suas mãos seguraram meu rosto com delicadeza, com seus olhos cheios de lágrimas esquadrinhando cada centímetro dele. Seu toque continuava suave e carinhoso, como sempre foi.

— V-Você… — Seus lábios secos tremeram. — Você morreu… em meus braços… E-Eu… Eu coloquei seu corpo na barraca… — Sua voz se tornou um fio de assombro. — Como é possível…?!

Ah, então foi lá que meu corpo encontrou descanso. No nosso bom e velho Acampamento.

— Eu ressuscitei. Com as Esferas do Dragão do meu planeta natal. — Esbocei um pequeno sorriso. — Estou de volta.

Lettie arquejou. Suas lágrimas rolaram pelas suas bochechas. Ela então me puxou num abraço apertado, enterrando seu rosto no meu pescoço, e chorou copiosa e silenciosamente.

Saudades. Este era o seu sentimento.

— E-Eu senti tanto, TANTO a sua f-falta… — soluçou Lettie com sua voz abafada.

Meu maior desejo naquele momento era abraçá-la de volta, beijá-la com todas as minhas forças, gritar para o meu Inimigo de que ele estava errado.

Mas reprimi esse desejo. Eu não tinha esse direito. Eu não podia fazer isso com ela, e nem comigo.

Porém, quando menos percebi, eu já havia a abraçado de volta, na mesma intensidade, consolando-a ao afagar sua cabeça e repetindo de que eu estava ali, com ela.

Não sei quanto tempo ficamos abraçados, apenas sentindo a presença e o calor do outro. Se eu pudesse, teria ficado daquele jeito para sempre.

Enfim, nossos olhos se encontraram outra vez, e nos demos conta do nível de proximidade e intimidade em que estávamos e nos afastamos rápido, tossindo e disfarçando enquanto Lettie pegava uns lenços de papel numa caixa da mesinha de centro e me oferecia alguns. Eu também havia derramado algumas lágrimas contra minha vontade.

Me sentei no sofá, encolhido num silêncio constrangedor ao limpar meu rosto. Então, após criar coragem, virei-me para Lettie:

— O que está fazendo aqui? — Olhei ao redor. — Esta casa por acaso… é sua?

— Sim… — Ela me olhou com um sorriso acanhado, muito corada e dobrando o lencinho de papel. — Chi-chi me deu de presente por eu ter cuidado de Gohan em nosso Treinamento.

Ergui as sobrancelhas em surpresa. Por mais que eu não fosse com a cara da mãe de Gohan, sua atitude me deixou impressionado.

— Pelo visto, o fato de eu deixar você mimar Gohan durante o Treinamento te resultou na realização do sonho da casa própria. — Cruzei os braços com um sorriso brincalhão.

Ainda bem que meu comentário a fez rir, o que ajudou muito a dissipar o clima constrangedor que nos rodeava.

— Bom, eu não colocaria nessas palavras. Mas, sim, basicamente. — Lettie sorriu, cabisbaixa. — Chi-chi tem sido uma grande amiga nos últimos meses… — Seu olhar então se ergueu para mim, inquisidor. — Só que antes de eu dizer qualquer coisa sobre mim, acho que você me deve algumas explicações, não é? — Ela adquiriu uma expressão preocupada. — Por ONDE você andou? Pensei que… nunca mais te veria…

— Tem razão… — Assenti, pressionando os lábios. — É uma história meio longa. Quer mesmo ouvir?

— Hoje é sábado. Tenho o resto do dia de folga. — Ela sorriu ao se levantar do sofá e pôs-se a caminho da cozinha. — Venha. Estou fazendo uma torta de maçã e–OH! Minha torta! Esqueci o forno!

— E-Eu… já desliguei pra você. Quando fui buscar a água — eu disse, sem jeito, me abaixando para pegar o copo caído e a seguindo.

— Obrigada, foi muito gentil da sua parte. — Lettie tirou a torta do forno com a ajuda de uma luva de cozinha e a colocou na pia. — Você tirou bem na hora certa. Um pouquinho a mais, e teria queimado. Aí, sim, não haveria Esfera do Dragão que te ressuscitasse.

Ela riu, eu ri, e enfim tudo pareceu voltar ao normal.

Droga… Isso era bom ou ruim?

— Sente-se, por favor. — Ela puxou a cadeira da ponta da mesa de jantar. — Irei te servir.

— Hã… — Limpei a garganta, acanhado com toda aquela bajulação. — N-Não precisa fazer isso…

— Faço questão. — Ela colocou uma toalha de mesa, alisando sua superfície para desamassá-la. — Você é a primeira visita que recebo aqui em casa além de Chi-chi e meus alunos.

— Como é que é? "Seus alunos"?

— Nada de falar de mim por enquanto, lembra? — Ela me deu seu típico olhar reprovador enquanto pegava pratos, talheres e copos nos armários.

— Tá… — Esbocei um meio sorriso tímido, passando a mão na nuca.

Lettie encheu nossos copos com suco, tomou um gole e se sentou na cadeira com as mãos apoiando o queixo.

— E então? Me conte tudo.

Por um segundo, a contemplei sentada ali, tão perto de mim. Os raios solares daquela tarde entravam pela janela acima da pia, com a brisa trazendo o adocicado e maravilhoso cheiro da torta de maçã esfriando sobre o granito.

Se alguém nos visse de fora, pareceria que éramos apenas um casal curtindo um café da tarde juntos em nossa casa.

Não, Piccolo! Pare de fantasiar impossibilidades.

Baixei a cabeça e suspirei. Felizmente, Lettie deve ter achado que eu estava apenas ordenando meus pensamentos, e não me autocensurando por desejar algo que eu não podia ter.

Levantei meu olhar para ela, recuperei minha compostura e disse:

— Quando morri, fui treinar com o Sr. Kaioh no Outro Mundo. Depois de um tempo, descobri que Gohan, Bulma e Kuririn tinham viajado até meu planeta natal para conseguir mais Esferas do Dragão e ressuscitar todos os que morreram na batalha contra os Saiyajins. Nesse meio tempo, Goku também foi para lá, pois descobriu que um babaca chamado Freeza também estava indo até lá atrás das Esferas do Dragão de Namekusei e queria desejar o que, de acordo com você, todo vilão clichê deseja: vida eterna para fazer suas idiotices, dominação mundial ou galáctica, etc etc etc. No fim, fui ressuscitado para ajudar naquela luta e levado até Namekusei. Então, me fundi com um cara da minha raça chamado Nail e fiquei muito mais forte. Lutamos contra os capangas de Freeza. Kuririn morreu. Goku virou um Super Saiyajin. — Tomei fôlego e prossegui: — No final das contas, Freeza lançou um golpe-bomba-relógio no meu planeta para explodi-lo e todos nós fugimos por uma nave espacial, exceto Goku, que desejou ficar para derrotá-lo de uma vez por todas. Ninguém sabe se ele sobreviveu à explosão de Namekusei. Viajamos por meses pelo Universo e finalmente pousamos aqui na Terra. Agora, todo o meu povo está procurando um lugar para ficar e não perecer num planeta estranho. Fim. Posso comer um pedaço da torta?

Cruzei os dedos no tampo da mesa e observei Lettie. Ela estava boquiaberta, de olhos arregalados, com diversos de pontos de interrogação circundando-a.

Então, Lettie, com toda a calma do mundo, levantou-se, foi até a pia, desenformou a torta numa tigela, cortou um pedaço, colocou no meu prato e voltou a se sentar, aproximando a cadeira ainda mais de mim.

— Detalhes — disse ela, por fim, com um olhar enigmático. — Se me der mais detalhes, prometo que essa torta inteira é sua.

Com um sorrisinho triunfante nos lábios, rodopiei o garfo em meus dedos e me pus a devorar aquela torta. Puxa! Como senti falta da comida da Lettie! Ter que racionar água em uma espaçonave com dezenas e dezenas de outros Namekuseijins por meses não foi nada fácil.

Quando enfim terminei de contar para Lettie tudo o que aconteceu no meu planeta natal com Freeza, não havia mais nenhuma mísera migalha de torta na tigela. Sem brincadeira, eu comeria mais uma inteira se tivesse.

Fez-se silêncio. Lettie olhava fixamente para mim.

Tristeza. Decepção. Estes eram os seus sentimentos.

Estranho… Não era para ela estar feliz com o meu retorno?

— Então… — começou ela. — Gohan estava em Namekusei com você?

— Sim. Como eu disse, ele viajou até lá para nos ajudar. — Percebi que seu olhar estava abatido e indaguei: — Algum problema?

— Temo que sim. — Lettie pressionou os lábios, cabisbaixa. Então me olhou outra vez. — Chi-chi mentiu para mim.

— Como assim?

— Quando voltei do seu... — Ela limpou a garganta. — Do seu funeral, fui visitá-la, conforme ela me pediu. Foi daí que Chi-chi me deu esta casa de presente. Pensei que Gohan e Goku estariam lá, se recuperando da luta. Mas não estavam. Chi-chi não quis me explicar o motivo da ausência deles. Só disse que tinha mandado Gohan estudar num internato em outro país.

— O quê? — Franzi o cenho. — Num internato?

— Sim. Achei muito estranho na época, mas não tive a audácia de perguntar seus motivos. Afinal, ela é a mãe e havia ficado um ano inteiro longe do filho. Deve ter pensado que ele se atrasou nos estudos e quis recompensar o tempo perdido. Durante os últimos meses, tentei perguntar para ela sobre Gohan ou conseguir qualquer notícia dele. — Ela baixou a cabeça. — Mas não consegui nada...

— O que Chi-chi respondia quando você perguntava sobre Gohan?

— Que ele estava bem, que conversavam por telefone uma vez por semana... — Lettie deu de ombros. — Até tentei convencê-la de me dar ao menos o número do internato para eu também conversar com ele, mas ela alegava que apenas os pais poderiam fazer ligações. Nem cartas os alunos podiam receber. Fiquei totalmente no escuro em relação a Gohan.

— Mas, por que ela inventaria uma coisa dessas? É um absurdo!

— É isso o que estou tentando entender agora… — Lettie encarou um ponto fixo, decerto com a mente fervilhando em dúvidas. — Acho que vou precisar ter uma boa conversa com minha cunhada.

— Mulherzinha esquisita ela, hein? — Torci os lábios.

— Ah, Piccolo, não sei… — Lettie suspirou, cansada. — Chi-chi precisa muito de ajuda. Foi ela quem me recomendou fazer terapia, o que tem me feito muito bem.

— Hã? — Inclinei a cabeça. — Você está fazendo terapia?

— Sim… — Ela assentiu, devagar. — Tive alguns episódios de transtorno de estresse pós-traumático e precisei fazer um tratamento.

Arregalei os olhos em completo choque e preocupação.

— É sério, Lettie? Mas, você está bem, agora?

— Sim, sim. Não se preocupe. — Ela apertou minhas mãos apoiadas no tampo da mesa. — Estou ótima agora. Faz muito tempo que não tenho pesadelos.

Mas, que droga! Lettie deve ter ficado muito desamparada emocionalmente com minha ausência e de Gohan. Desejei do fundo do coração protegê-la com todas as minhas forças e afugentar todo o mal e medo que a rodeava.

"Se fizer isso, ela morrerá, dolorosamente. Garantirei que isso aconteça. E a culpa será toda sua," disse o meu Inimigo.

Senti um tremor diante desta ameaça, e tive que me conter ao máximo para não demonstrar meu desconforto para Lettie. Ela não percebeu e adquiriu uma postura mais relaxada, estreitando os olhos com um sorrisinho.

— Mas me diga, Piccolo. Então quer dizer que enquanto eu estava aqui lamentando sua morte, você ficou treinando com um senhorzinho azul? Não tem dó de mim, não?

Me senti bem mais leve com seu tom brincalhão. Lettie, como sempre, deixava tudo menos ruim, por mais terrível que fosse.

— Em minha defesa — cruzei os braços —, pensei em você todos os dias.

Silêncio constrangedor.

O que foi isso, Piccolo??? Por que disse isso em voz alta?!?!

Lettie ficou vermelha e, para disfarçar, se levantou e começou a recolher a louça suja da mesa. Quis voar porta afora e me esconder numa caverna para sempre. Que coisa! Como pude ser tão imprudente?!

— Hã… — Lettie me olhou de relance na pia. — M-Me conte mais sobre esse negócio de você ter se fundido com um Namekuseijin. — Ela então ergueu uma sobrancelha numa careta suspeita. — Não vai me dizer que agora tem uma pessoa vivendo dentro de você.

— Não, não… — Eu ri, aliviado por mudarmos de assunto. — Eu apenas absorvi as habilidades do Nail para ficar mais forte. Ele estava morrendo, e eu precisava de mais força para lutar contra Freeza. Os dois saíram ganhando.

— "Nail"? — repetiu Lettie, olhando a paisagem através da janela. — Hmm… Nome bonito…

Quase surtei ao vê-la aprovando o que seria o nome de um de nossos gêmeos. Será que demos este nome em homenagem ao guerreiro Namekuseijin que me ajudou num momento que eu precisava? Bom, não sei.

— Queria saber mais sobre a transformação do meu irmão em um Super Saiyajin — pediu ela. — Como funciona isso? Deve ser algo impressionante.

— É, sim, impressionante. — Ignorando minha vergonha, me levantei para ajudá-la e secar a louça, afinal, eu não ficaria vendo-a limpar tudo sozinha, mesmo com ela recusando ao alegar que eu era uma visita. — Goku se transformou após Kuririn ser morto. Acredito que esta transformação precisa de um gatilho muito forte para ser ativada. Igual ao poder oculto que você e Gohan demonstraram no Treinamento, lembram?

— Sim… me lembro… — Ela ficou pensativa ao lavar os pratos.

Ao olhar para Lettie ali ao meu lado e me recordar da aparência de Goku em sua transformação, uma memória me atingiu como um raio. Durante o meu sonho, quando eu e Lettie treinamos sozinho à noite, ela havia se transformado em algo que, na época, não compreendi.

Mas agora, após ter visto Goku na forma de Super Saiyajin, tudo fez sentido.

Lettie também havia se transformado em Super Saiyajin em meu sonho!

Será que… isso aconteceria no futuro? Se positivo, qual seria o seu gatilho?

— Escuta… — Ela interrompeu meus pensamentos. — Você acha que… que o meu irmão morreu de novo?

— É difícil saber seu paradeiro. — Peguei um copo para secar. — Não temos nenhuma notícia dele desde que fugimos de Namekusei. A viagem normalmente é bem rápida entre os planetas. Mas, como a espaçonave estava com superlotação, precisamos ir muito devagar para não sobrecarregá-la e acabou demorando sete meses. Mas, a vantagem das novas Esferas do Dragão é que, em 130 dias, elas já voltam a funcionar e concedem não um, mas três desejos. Só estamos esperando os outros Namekuseijins se acomodarem aqui na Terra, e enfim iremos reunir todo mundo para fazermos os pedidos.

— Oh, somente 130 dias? Isso é ótimo! — Lettie abriu a boca em surpresa. — Assim podemos ressuscitar os outros guerreiros bem mais rápido.

— Sim, e então veremos o que de fato aconteceu com Goku.

Ela assentiu e se virou para mim com as mãos na cintura.

— Vem cá, Vegeta veio mesmo com vocês? — Sua voz denotava nojo.

— Ah, Lettie! — Estalei a língua, irritado. — Nem me fale sobre isso!

— Ele se tornou um aliado nosso, é isso?! — Seu tom era tão indignado quanto o meu.

— Sei lá! — Abanei a mão com desdém. — Acho que ele é daquele tipo de gente que se une a um grupo enquanto pode tirar alguma vantagem. A única coisa que sei é que quero distância desse cara. E, para falar a verdade, acho prudente você também não se envolver com ele.

— Há! Fique tranquilo, meu querido. — Lettie riu. — Ainda me lembro muito bem das palavras nojentas que ele me disse em nossa batalha. Só de pensar nele, me dá arrepios. — Ela fingiu estremecer. — Brrr!

— Já eu, só de pensar nele, me dá raiva. — Fiz um bico ranzinza. — Especialmente do que ele queria fazer com você e todo aquele papo odioso de "herdeiros de sangue puro". — Sacudi a cabeça como se espantasse um mosquito chato. — Mas chega de falar daquele otário! Quero saber de você. Que história é essa de "meus alunos"?

Devagar, Lettie se virou para mim com um sorrisinho atrevido.

— Venha comigo. Quero te mostrar uma coisa.

Confuso, mas curioso, a segui por uma porta ao lado da cozinha. Ao atravessá-la, me encontrei num anexo redondo e espaçoso, com o chão revestido de tatame e diversos aparatos para exercícios físicos ao redor. Uau! Bela sala! Não me lembro de tê-la vista em meu sonho…

— Piccolo… — Ela abriu os braços e o seu sorriso. — Bem-vindo à minha Escola de Artes Marciais!

Escancarei a boca ao fitá-la com incredulidade.

— O quê?! Sua Escola de Artes Marciais?!

— Eu sei. — Lettie riu. — Pode parecer loucura, abrir uma Escola no meio desse NADA, ainda mais quando combinamos de eu procurar um emprego como professora iniciante na cidade. — Ela suspirou. — No entanto, havia uma... necessidade de uma Escola como a minha nesse lugar.

— Como assim? — repliquei, analisando a sala ao redor ainda meio boquiaberto.

— Apesar de não parecer, por causa da natureza densa daqui, há muitos vilarejos e fazendas nesta região. Muitas famílias com jovens e crianças. Nem Chi-chi nem Gohan sabiam disso, por isso ele não tinha com quem brincar, se lembra? O problema é que essas pessoas daqui são muito... hã... como posso dizer? São muito simples e, infelizmente, sofrem nas mãos de muitos ladrões e gente mau-caráter que aproveitam a falta de segurança e a incapacidade de autodefesa dos moradores. — Lettie sorriu. — Então, a oportunidade perfeita surgiu. Criei um programa especial para ensinar essas pessoas de baixa renda a se defenderem com minhas aulas. Faço pacotes com preços justos e todo mundo sai ganhando. A maioria das minhas turmas são de crianças desde uns três aninhos até os adolescentes, mas até os pais também fazem algumas aulas. Tem sido uma maravilha! Nunca mais perdi uma noite de sono preocupada em pagar minhas contas! Eu finalmente consegui me sustentar com algo que amo e… — Ela desviou o olhar com vergonha. — Sem ser clandestino.

Fiquei sem palavras. Orgulho preenchia o meu peito. Que mulher…

— Então — sorri ao cruzar os braços —, você encontrou uma necessidade e criou a solução para isso.

Lettie escondeu um sorriso acanhado e colocou a franja atrás da orelha.

— Acredito que sim… Meu Mestre me ensinou direitinho, sabe? E foi uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos meses.

Meu coração dobrou de tamanho com suas palavras.

— Sabe, Piccolo… — Lettie se aproximou com uma feição abatida. — Quando você morreu, jurei a mim mesma que não permitiria que sua memória também morresse. Jurei que passaria todos seus ensinamentos adiante. — Ela contemplou sua Escola com um brilho de satisfação no olhar. — Quando ganhei esta casa da Chi-chi e encontrei esta sala, soube que seria aqui onde eu cumpriria minha promessa. No começo eu não sabia como, mas depois, tudo foi se encaixando. — Ela voltou-se para mim com os olhos marejados. — E estou firme no meu propósito até hoje. Graças a você.

Minha pulsação acelerou com sua declaração. Lettie havia aberto uma Escola de Artes Marciais, tomado uma decisão tão grande em sua vida, em homenagem… a mim?

"Você não é digno de nada disso. Não merece. Já se esqueceu do que fez Lettie sofrer no passado?", ameaçou meu Inimigo.

Uma latejante dor aguda atingiu minhas têmporas, mas nem tive tempo de percebê-la direito, pois Lettie levitou até ficar na minha altura, da mesma forma que fez no nosso último dia de Treinamento.

Ela me olhou profundamente e confessou:

— Eu também pensei em você, Piccolo. Todos os dias.

Amor. Este era o sentimento que transbordava dela.

Meu coração gritava em meu peito, gritava para confessar o meu sentimento por ela.

Mas eu não podia fazer isso. Não podia fazer isso com a Lettie! Justo ela, cujo maior sonho era se casar e ter filhos, deveria realizá-lo para perder tudo no final… por minha causa???

Me aproximei dela, mirando o que eu mais desejava: seus lábios. Eu podia sentir seu hálito doce, quente e convidativo.

O que estava acontecendo comigo?! Por que eu não conseguia me conter?!

— Lettie… — sussurrei.

Não, Piccolo! Não faça isso!!!

— Sim? — perguntou ela, baixinho.

PARE!!!

— E-Eu… Eu…

Um choro agudo e estridente nos alcançou naquela sala.

Paralisamos.

Lettie virou a cabeça de súbito em direção à porta. Então, sem mais nem menos, disparou de volta para dentro de casa.

O que aconteceu??? Que choro foi aquele???

Sem nem pensar, corri para a cozinha, mas não a encontrei lá.

— Lettie?! — a chamei, aflito, no corredor entre a mesa de jantar e o sofá. Quando pus um pé na frente para procurá-la, ela voltou de um dos quartos, carregando algo nos braços.

Uma pequena bebê se aninhava em seu peito, agora emitindo um chorinho fraco. Em contraste com o macacão rosa, fartos cabelos negros se projetavam de sua cabeça.

Lettie parou à minha frente. Seus olhos revelavam uma grande preocupação.

Medo. Este era o seu sentimento.

— Q-Quem é ela? — perguntei, procurando manter meu tom o mais calmo possível em comparação ao meu coração disparado.

— Piccolo, outra coisa importante aconteceu durante o tempo em que você esteve morto. — Lettie engoliu em seco, sem quebrar nosso contato visual e, enfim, declarou: — Esta é a minha filha. Eu a adotei há um mês. Seu nome é Naíma.


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