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50% A Herança Saiyajin e a Solidão do Guerreiro / Chapter 18: Capítulo 17

Capítulo 18: Capítulo 17

LETTIE

Demorei três dias para finalmente ir até à casa de Chi-chi.

Durante este período, me afundei num tenebroso, profundo e apático estado de letargia.

Após me despedir de Piccolo, juntei todos os meus pertences na minha velha mochila e fui para o segundo lugar na Terra que me trazia mais conforto do que nosso Acampamento: as Águas Termais.

Me deitei na grama de frente ao grande lago daquela paisagem etérea e apenas existi, esmagada pela dor do luto e contemplando aquelas piscinas naturais, me dando conta de que nunca mais eu vivenciaria todas as experiências maravilhosas que tivemos ali.

Não bastasse eu pensar em Piccolo nos momentos em que eu estava desperta, quando eu conseguia pegar no sono, ele aparecia em meus sonhos, com seu corpo destruído em meus braços e sua voz suplicando o quanto não queria morrer.

Permaneci nas Águas Termais até que a dor de sua perda ficou insuportável. A imagem do meu sobrinho foi o que me fez reunir forças e me levantar. Eu precisava vê-lo. Sem dúvidas já teve alta do hospital e estava em casa com Goku. Ter a companhia da minha família era tudo o que eu precisava.

Assim que me levantei, percorri meu olhar por aquele quadro vivo por uma última vez e permiti que mais uma lágrima escorresse dos meus olhos vermelhos e inchados.

Aqui me despeço do lugar que me trouxe intensas alegrias. Agora, só me resta um futuro cheio de medos e incertezas.

O que me consolava era que eu ainda tinha o meu irmão e o meu sobrinho. Bom, ao menos, era o que eu pensava quando levantei voo das Águas Termais e me dirigi até o endereço escrito naquela folha de papel que Chi-chi me entregou.

Durante o percurso, meu estômago reclamou em protesto por ter ficado tanto tempo sem comer, e minha fraqueza afetou a qualidade do meu voo. Só sei que deveria ser próximo ao meio-dia quando enfim cheguei na casa de Goku, e torci, do fundo do coração, que eles me servissem algo para comer ao avistar fumaça saindo da chaminé.

Apesar da minha condição emocional, foi impossível para mim não reparar o quanto sua casa era adorável. Confirmando as palavras de Gohan, a construção ficava num grande terreno localizado no interior, rodeado pelas montanhas e natureza. Era feita de tijolos brancos, com o telhado e alguns detalhes de madeira, o que trazia um aspecto de simplicidade e luxo ao mesmo tempo. Um anexo circular côncavo, revestido com as pedras brancas e lisas, remetia à estética da arquitetura moderna presente nas cidades.

Esfregando as mãos, caminhei em direção à porta da frente da casa e toquei a campainha. Uma sensação de ansiedade, misturada com nervosismo e timidez, me acometia. Parecia que eu não os via há décadas, e não poucos dias. Lá de fora, escutei o barulho de uma panela de pressão abafar o som de passos apressados.

A porta foi aberta por Chi-chi. Ela usava o mesmo conjunto de roupas de quando a vi pela primeira vez, só que com um avental de cozinha por cima.

Confesso que sua típica feição severa me fez encolher, e me perguntei o que raios eu fazia ali. Será que eu esperava que ela e sua família me ajudassem ou me acolhessem debaixo do seu teto? Não sei dizer. Além de que, ao me dar conta do estado deplorável de minhas roupas, só me fez encolher mais em constrangimento.

Ainda bem que meu receio se dissipou quando ela esboçou um pequeno sorriso.

— Suspeitei que fosse você. — Ela deu um passo para o lado e gesticulou para dentro da casa. — Por favor, entre.

Mesmo receptiva, Chi-chi não deixava de exalar uma aura de autoridade sobre mim. Me xinguei mentalmente por ter me esquecido de tomar um banho nas Águas Termais. Mas o luto nos faz esquecer até mesmo das coisas básicas.

Morrendo de vergonha, ajeitei minha mochila nos ombros enquanto limpava minhas pesadas botas no tapete em frente a porta, tentando aparentar um pouco mais decente diante minha cunhada, e entrei.

Eu esperava ser recepcionada por Goku e Gohan. Pelo menos, eu tinha certeza de que suas presenças me fariam me sentir melhor. No entanto, a única presença que encontrei além de Chi-chi e do maravilhoso cheiro de comida foi a solidão. Bom, eles devem estar no quarto ou no banheiro, pensei. Vamos aguardar.

— Por favor, sente-se. — Minha cunhada me guiou até a mesa de jantar no centro da cozinha. — Imagino que esteja com fome, não é?

Meu indisciplinado estômago respondeu por mim, e quis me enterrar debaixo da terra. Chi-chi percebeu.

— Não se preocupe. — Ela sorriu ao retornar para o fogão. — Este é o som que mais escuto aqui em casa.

Repliquei com um sorriso amarelo e acanhado ao puxar uma cadeira para me sentar. Nada do meu irmão ou sobrinho.

— O-Obrigada por me receber… — eu disse, a observando tirar um assado do forno e o colocar na mesa. — Me desculpe por ter demorado tanto…

Chi-chi apenas assentiu. Já eu, precisei me conter para não abocanhar aquele assado ali mesmo. Durante um breve período de silêncio, percorri meu olhar por aquela bela cozinha aconchegante, até que parei quando algo me chamou atenção em cima de um dos balcões: caixas de remédios.

Ao estreitar os olhos, li o rótulo e reconheci o medicamento.

Eram remédios para depressão. Sei disso porque aquela bondosa senhora que cuidou de mim por um tempo os tomava.

Uma profunda amargura adentrou meu peito ao refletir o que fez Chi-chi precisar deles. Decerto, a repentina notícia da morte do marido e do sequestro do filho de quatro anos pelo seu rival deve ter sido um baque muito terrível. Foi impossível para mim não me colocar em seu lugar e sentir empatia e compaixão.

Será que ela já estava se recuperando? Ou ainda sofria com isso?

— Onde está Gohan e Goku? — perguntei para puxar assunto.

— Coma primeiro. — Chi-chi colocou outros pratos de comida na mesa com um leve riso brincalhão. — Conheço muito bem a sua genética para saber que sua mente funciona melhor após comer. Por favor, sirva-se à vontade.

De início, hesitei. Porém, aquela sensação de autoridade que outrora senti nela, aos poucos desaparecia do seu olhar, dando lugar a uma expressão amigável e compressível.

Ataquei aquele almoço sem vergonha alguma.

Como era bom comer algo diferente da nossa sopa e frutas daquela região! Gohan estava certo. Chi-chi era uma cozinheira de mão cheia.

Minutos depois, toda aquela comida fora devorada por mim (exceto o prato que Chi-chi fez para si). De fato, comer ajudou a aliviar um pouco meu profundo estado de tristeza pela morte de Piccolo. Só um pouco.

— Muito obrigada pela refeição. — Dei um pequeno sorriso tímido. — Estava uma delícia.

— Gohan me disse que você também gosta de cozinhar e de que tem muito potencial. — Ela apoiou os braços no tampo da mesa. — Fico feliz em saber que temos algo em comum. Será um prazer te ensinar tudo o que sei sobre culinária.

— Agradeço sua oferta. Será uma honra aprender com você — repliquei, quase também a chamando de "Mestre". Meio incerta, olhei ao redor e prossegui: — E-Eu… achei que encontraria Goku aqui…

Chi-chi afastou seu prato vazio de comida e respondeu:

— Goku está viajando.

— Oh… — Ergui as sobrancelhas. — Viajando? Achei que estivesse de repouso, se recuperando.

— Repouso?! — Ela riu alto. — Essa é uma palavra que definitivamente não está no vocabulário dele.

— Certo… Então… ele… está viajando… a trabalho?

— Pfft! — Chi-chi bufou com nítido desdém. — A trabalho. HÁ! Quem me dera…

Tá. Apesar de não a conhecer direito, o comportamento da minha cunhada estava muito estranho, mas fiquei com medo de perguntar por mais detalhes. Ainda não tínhamos intimidade, e ela não parecia nada confortável com o assunto.

— Mas, Goku acabou de ressuscitar dos mortos — eu disse. — Ele… não quis passar um tempo com você e Gohan antes de ir?

Chi-chi desviou o olhar e deu de ombros, mas não a tempo o suficiente para me esconder seus olhos cheios de lágrimas. Algo nela me mostrava um profundo… descontentamento e infelicidade. Sem querer, ponderei se, de fato, meu irmão e minha cunhada tinham um bom relacionamento e casamento.

É… Eu ainda tinha muito o que aprender sobre minha família.

— Hã… — Tentei soar otimista. — E quanto a Gohan?

Chi-chi rapidamente secou uma lágrima que escapou, e voltou a ficar com sua postura ereta.

— Gohan também ficará ausente por um tempo.

Empertiguei as costas.

— O quê?

Chi-chi evitava o meu olhar e se remexia na cadeira. Algo a incomodava, e muito.

— Lettie — ela fez contato visual, sem desmanchar sua postura —, apesar de me orgulhar do meu filho ter ajudado a salvar o mundo, não posso negar que ele ficou tempo demais longe dos estudos. Por isso, o enviei para um internato. Muito longe daqui. Ele ficará por lá até quando eu achar que deve voltar.

— Um… internato? — Arregalei os olhos.

— Sim. — Ela assentiu, firme. — Fica... hã… Fica em outro país. Um dos melhores do mundo. Gohan se tornará um grande acadêmico tendo uma escola dessas no seu currículo.

Não. Chi-chi não podia estar falando sério. Currículo? Gohan tinha cinco anos e já estavam pensando em seu currículo??? Sei que não tinha nenhum direito de opinar em suas decisões sobre o filho. Afinal, ela era sua mãe. Mas, poxa! Não bastava Piccolo ter sido tirado de mim de um modo tão brutal, e agora, Gohan, também?! E nem tive a chance de me despedir dele!

Olha, pra falar a verdade, tive que conter MUITO para não transparecer toda minha indignação. Eu não queria estragar o nosso relacionamento que mal havia começado, mas confesso que sua comida de repente ficou bem pesada em meu estômago.

Contudo, mesmo assim…

Apesar da inocente aparência de uma simples mãe e dona de casa, vivendo tranquila numa casinha no interior, agora tive minha confirmação de que havia algo de errado naquela conversa. Alguma coisa estava acontecendo. Posso não ser a mulher mais inteligente do mundo no sentido acadêmico como Gohan, mas eu não era burra.

— Por favor, Lettie, não pense que estou fazendo isso por mal, ou que quero te atacar — disse ela ao provavelmente perceber minha expressão perturbada. — Gosto de você e já te disse que tenho uma dívida eterna de gratidão pelo que fez pelo meu filho. — Ela fechou os olhos e respirou fundo. — Portanto, acho melhor já começar a pagá-la.

— O que quer dizer? — indaguei, ainda me recuperando do baque da notícia de que não veria meu irmão e sobrinho por um bom tempo, justo agora que eu mais precisava de companhia.

Mantendo seu semblante sério, Chi-chi me olhou e disse:

— Gohan me contou toda sua história, antes de... — Ela limpou a garganta. — Antes de ir para o internato. Sei da sua condição financeira atual e sinto muito, de coração. Por isso, como ato de agradecimento por cuidar do meu filho durante este ano de Treinamento com Piccolo, quero te dar uma coisa.

Assisti minha cunhada se levantar e ir até um porta-chaves pendurado na parede. Após pegar um chaveiro, ela o colocou sobre o tampo da mesa à minha frente.

— Aqui estão as chaves de uma outra propriedade que tenho, não muito longe daqui. Estou dando ela para você. Minha família é muito rica e poderosa, então, bens materiais e dinheiro não são um problema para mim. Além disso, também te darei uma quantia para conseguir se sustentar por alguns meses até se reestabelecer por completo, arranjar um emprego ou… o que quer que decida fazer.

Congelei naquele assento, escancarando a boca ao ficar em completo estado de choque.

Eu ouvi direito?

Chi-chi estava me dando… UMA CASA??? Uma casa inteira, com teto, paredes, chão, móveis e tudo o mais???

— N-Não! — Levantei da cadeira num pulo; meu corpo formigando. — Não posso aceitar isso, Chi-chi!

Me surpreendendo com uma força incrível, ela pegou minha mão e colocou o molho de chaves nela, fechando meus dedos ao redor daqueles pequenos objetos metálicos.

— Lettie, me escuta. Eu não faço isso pra qualquer um. — Seu tom era obstinado, assim como sua força. — Aceite. Depois, acertamos a documentação.

Deixei escapar um arquejo incrédulo. Não era possível. Só podia ser uma alucinação que o luto me causou!

No entanto, a textura metálica na minha palma era bem real. Chi-chi enfim me soltou e abri minha mão, analisando aquelas chaves do que agora pertenciam a… minha casa.

MINHA CASA!!! Dá pra acreditar?!

Eu… Eu não precisaria mais morar nas ruas! Eu teria um teto sobre minha cabeça; um lugar para me abrigar dos meus medos e tribulações do presente. O sonho de ter minha casinha, o qual pensei que demoraria anos para se realizar ou que, mais provável ainda, nunca se realizasse… se materializou bem ali, na minha frente, na forma da minha cunhada!

Por um momento, precisei ignorar tudo o que ela havia dito sobre a repentina ausência do meu irmão e sobrinho. A emoção que senti foi grande demais. Me lancei para frente e a abracei como se ela fosse minha irmã.

— Obrigada! — Chorei em seu pescoço. — M-Muito obrigada! — Peguei em suas mãos, as apertando com genuíno afeto. — Chi-chi… não tenho palavras… Agora sou eu quem tenho uma eterna dívida de gratidão com você.

— Tenho uma ideia de que nos fará ficarmos quites. — Ela sorriu gentilmente.

— O que é? Me diga, farei qualquer coisa.

— Será que… — Os olhos de Chi-chi se encheram de lágrimas. — Você aceitaria ser minha amiga?

Com meu coração dobrado por aquele pequeno momento de felicidade em meio à tantas trevas, observei minha cunhada com atenção.

Chi-chi poderia ser uma mulher obstinada e de temperamento difícil, poderia criar seu filho de um modo que eu não concordava, poderia ter um casamento estranho com meu irmão, mas…

Aquelas caixas de remédio para depressão não mentiam. Assim como eu, ela precisava de ajuda e de alguém que a acolhesse quando ninguém mais estava ali, mesmo que seus defeitos me incomodassem.

Por acaso, não é isso que é a verdadeira amizade?

***

Minhas pernas cederam quando contemplei a minha casa.

Caí de joelhos e apoiei minhas mãos no chão, sentindo a umidade da grama verde que rodeava todo aquele terreno.

À minha frente, a casinha mais aconchegante do mundo se estendia para o alto. Uma varanda abrangia a fachada daquela construção feita de madeira. Ela tinha o tamanho perfeito; nem muito grande, nem muito pequena.

Apertando o chaveiro junto ao peito, me levantei e subi os poucos degraus da varanda, reparando nas poltronas de vime debaixo das janelas principais, postas de um jeito que o usuário apreciasse a paisagem.

Me sentei numa das poltronas e arquejei em deslumbramento ao avistar o Sol se pondo atrás da cadeia de montanhas que preenchia o horizonte de todo aquele vale repleto de árvores.

Seria muito útil ter uma câmera fotográfica naquele momento, mas eu sabia que minha mente nunca esqueceria tal visão espetacular.

Enfim, me dirigi até a porta da frente e a abri com uma das chaves.

Numa mistura de choro e riso, admirei o interior do lugar que eu chamaria de Lar a partir daquele momento. E que Lar!

Ainda parada na porta de entrada, avistei o espaço de um corredor aberto que separava a área da sala de estar à direita e a cozinha à esquerda. O sofá super macio praticamente me convidava para me jogar nele, em frente a uma televisão apoiada num aparador, com mais duas poltronas e uma mesinha de centro.

Tapando a boca, mas sem conter minhas lágrimas, caminhei até a cozinha dos meus sonhos. Era simples, com cores suaves e neutras, mas tão, tão bela! Tinha fogão, geladeira, micro-ondas e todos os utensílios necessários que uma amante da culinária como eu precisaria para me divertir nas receitas mais mirabolantes que eu planejava executar. Uma mesa de madeira de seis lugares demarcava o corredor com o sofá fazendo o mesmo do outro lado.

Os últimos raios solares entravam pelas janelas de madeira ao redor de toda aquela extensão, e as abri para deixar o ar circular; a brisa do entardecer acariciando as cortinas brancas.

Seguindo adiante através do corredor, abri três portas; duas delas davam para dois quartos, sendo um deles de hóspedes e o outro decorado num estilo mais infantil, o qual suspeitei que era ali que Gohan dormia quando vinha para cá. A outra porta dava para um banheiro.

A última porta me revelou o que seria o quarto do casal, rodeado por mais janelas e com vigas de madeira transpassando o teto. Abri um sorriso de contentamento ao ver aquela maravilhosa cama queen size, cheia de almofadas e edredons organizados como em revistas de decoração. Ao lado da cama, havia a porta do banheiro da suíte, e abri a boca em felicidade ao ver uma banheira digna de um SPA da cidade.

Fiquei zanzando pela minha casa, rindo feito boba ao analisar cada detalhe, cada objeto, cada cor. Foi então que reparei numa última porta, ao lado da cozinha. Quando a abri, quase caí para trás.

Era uma grande Sala de Treinamento.

Chi-chi deve ter mandado construir por causa de Goku, talvez para ao menos tentar mantê-lo dentro de casa enquanto treinava. Agora que eu reparava bem, a sala possuía o mesmo estilo moderno daquele anexo branco e circular côncavo que vi na casa da minha cunhada. Todo o chão era revestido por um tatame de excelente qualidade, com pesos, sacos de boxe e outros aparatos para exercícios físicos organizados em prateleiras.

Além da casa, agora eu tinha minha própria academia privativa.

Fui até o centro daquela sala e me deitei no tatame, em silêncio. A luz do Sol refletindo nas janelas de vidro aos poucos deu lugar à escuridão da noite. Era tão estranho… A partir de agora, eu viveria rodeada por paredes, depois de tanto tempo rodeada pela natureza.

Me senti esmagadoramente sozinha.

Como era possível eu sentir tanta felicidade e tristeza ao mesmo tempo?

Poxa vida, um dos meus maiores sonhos estava materializado ali ao meu redor. Eu agora tinha uma casa, um lugar para passar o resto da minha vida.

Mas não tinha ninguém com quem a compartilhar.

Seria tão bom ter Gohan aqui para passar alguns dias comigo ou nas folgas dos seus estudos, nos divertindo ao explorar toda a magnífica natureza daquele terreno. Eu cozinharia muitos pratos deliciosos e assistiríamos aos seus desenhos favoritos naquele sofá confortável da sala de estar. Depois, o colocaria para dormir em seu quarto e, caso tivesse algum pesadelo a noite, eu o aninharia em meu peito e garantiria que nenhum mal chegasse a ele.

Mas Gohan não estava mais lá. 

Contudo, acima disso, Piccolo também não. Ah, se a vida tivesse nos dado a oportunidade de construirmos algo juntos…!

Será que… eventualmente… ele me pediria em casamento? Será que… sequer me amava, do jeito que eu o amava? Será que ele, assim como eu, pensava em levar esse estilo de vida simples? Ele é, ou melhor, era tão difícil de se decifrar… Tão fechado para com seus sentimentos…

Será que havia a possibilidade de um futuro onde ficaríamos juntos? Aposto que talvez nem mesmo Piccolo negaria morar numa casa dessas, ao invés de viver no meio da natureza selvagem como fizemos. Poderíamos ficar horas treinando juntos nesta sala, só eu e ele…

Será que, se isso se cumprisse, daqui a um tempo não teríamos alguns pezinhos meio Saiyajins e meio Namekuseijins correndo por esta casa, nos chamando de Mamãe e Papai?

Não, Lettie… A quem você está querendo enganar?

Do que adianta pensar em possibilidades que ficaram para trás? Elas nunca mais aconteceriam.

Entretanto, mesmo assim, fiz um juramento no túmulo de Piccolo. Prometi que sua memória não ficaria em vão. E seria nesta casa, nesta Sala de Treinamento, que eu cumpriria minha palavra.


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