Leon
Minha cabeça ia explodir de tanta dor. Estava com muito enjoo. Tento virar a cabeça, e não consigo.
— Senhor Vitorino? Senhor Vitorino! — ouço me chamarem, e não sabia quem era.
— Onde eu estou? — pergunto, tentando abrir os olhos, mas a claridade me cegou, fazendo-me gemer.
— O senhor se encontra em um hospital.
— Cadê a minha namorada? Ela está ferida? Preciso ver ela! — tento sentar, e a vertigem que sinto é tão forte, que quase caio, se não fossem os enfermeiros. Fecho os meus olhos rápido.
— Tenta ficar calmo — ouço a voz de uma mulher querendo me tranquilizar.
— Por favor, me fale onde está a minha noiva — peço novamente, com medo de algo ruim ter acontecido com minha rainha. Eu não iria suportar.
— O senhor foi encontrado sozinho caído no chão do banheiro — a voz fala. Abro os olhos novamente para ver com quem estou falando e encontro uma mulher que deduzo ser a médica.
— Onde ela está, então?
— Senhor, realmente não tinha ninguém perto do senhor.
— Preciso que vocês a encontrem.
— O senhor quer que ligue para alguém?
— Sim, por favor, ligue para minha cunhada. E também quero que chame a polícia.
— OK, senhor, vamos avisar a sua cunhada. Quanto à polícia, ela já está aqui.
— Obrigado, doutora. Então mande eles entrarem, eu preciso falar com eles — peço, com urgência.
— Podem entrar, o paciente quer vê-los — ouço-os agradecendo e tento abrir novamente os olhos, a vertigem passou. Então dou de cara com um casal de policiais que me olhavam preocupados.
— Senhor Vitorino, me chamo Gustavo Boa Ventura, e essa é a minha parceira Tatiana Lins — o policial me cumprimenta.
— Obrigado por estarem aqui.
— O senhor está bem para poder dar um depoimento?
— Sim, só que antes eu preciso que vocês procurem a minha namorada! — peço, desesperado.
— Antes de procurar por ela… O senhor se lembra do que aconteceu?
— Sim, eu me lembro de tudo.
— Então nos conte o que houve.
— Logo que acordamos pela manhã, tomamos café e a levei até a faculdade. Depois segui para a minha empresa para trabalhar e fiquei lá até quase o horário de buscá-la na faculdade, e saí da empresa para ir de encontro com ela — fico meio tonto na posição em que estava.
— Senhor Vitorino, o senhor está bem? — a policial pergunta, preocupada.
— Estou um pouco tonto.
— O senhor quer parar?
— Eu estou bem! Não quero parar de falar.
— Então é melhor o senhor deitar — ouço a voz da médica, e com ajuda deles eu deito.
— O que houve comigo, doutora? — pergunto, sentindo a minha cabeça latejar.
— O senhor sofreu uma forte pancada na cabeça que foi feita por uma coronhada de revólver.
— Entendo — olho para o policial e aviso: — Eu quero continuar a contar.
— OK, estamos ouvindo.
— Então, onde parei?
— O senhor disse que saiu da sua fábrica e foi até a faculdade de sua namorada para buscá-la.
— Então, assim que eu cheguei à faculdade, fiquei esperando-a encostado ao carro, e foi aí que ela saiu e acenou para mim. Ela estava vindo em minha direção quando um aluno que imagino que seja da sala dela agarrou o seu braço e ficou conversando com ela como se estivesse brigando.
— E quem é ele, o senhor sabe?
— Eu a ouvi chamá-lo de Pedro.
— E esse Pedro, o senhor sabe alguma coisa sobre ele?
— Nada. A Maria Eduarda e eu estamos namorando há pouco tempo. Conhecemo-nos através de sua irmã, que trabalha comigo.
— Então continue, o que o senhor fez quando viu que esse tal de Pedro tinha agarrado o braço de sua namorada?
— Bom, eu consegui tirar os braços dele de cima dela, o ameacei dizendo que se ele voltasse a procurá-la ele se veria comigo.
— E depois disso, o que aconteceu?
— O tal de Pedro me ameaçou dizendo que iria me destruir, mas não acreditei nele. Depois seguimos para o shopping para almoçar e depois ir comprar um novo celular para ela, pois ela está sofrendo perseguições de um maníaco — respondo, sentindo a raiva novamente.
— Vamos voltar, sobre o shopping, e depois quero saber mais sobre esse maníaco, como o senhor mesmo disse.
— Então, depois que almoçamos, paramos para comprar sorvete para a Duda, e ficamos brincando e conversando até ela terminar. Ela disse que precisava ir ao banheiro, e eu aproveitei e também fui. Combinamos de nos encontrar no corredor, de onde iríamos para a loja. Mas, assim que cheguei à porta do banheiro, ao puxá-la senti uma dor horrível na cabeça e acabei desmaiando. Quando acordei, a minha namorada não estava aqui do meu lado.
— Compreendo, e até agora ela não entrou em contato com ninguém?
— Que eu saiba, não. Pedi para avisarem a minha cunhada, a sua irmã Vanessa Sanches.
— Agora me conta sobre o tal maníaco que está perseguindo a sua namorada.
— Então, há dois anos a minha namorada foi violentada, no dia do seu aniversário de 18 anos — respondo, tentando controlar a minha raiva.
— E o estuprador foi pego?
— Não, que a gente saiba. Há mais ou menos uns dois dias ele voltou a persegui-la — comento, pensativo, ainda querendo saber como ele descobriu o seu número.
— E vocês não conseguiram descobrir quem era?
— Não. E o mais estranho é que ele descobriu onde ela estuda, e a minha namorada chegou mesmo a desmaiar por causa desse lunático.
— Então ele voltou a persegui-la?
— Sim, e também a mandar mensagens xingando-a por estar comigo e fazendo ameaças.
— E, fora isso, a sua namorada não tem problema com mais ninguém?
— Não, a minha irmã não tem problema com ninguém! — ouço a voz da Vanessa na porta do quarto, olho para ela e sento novamente. Gemendo baixinho, pergunto, esperançoso:
— Vane, a Duda! Você conseguiu falar com ela?
Mas o olhar que ela me deu era triste:
— Leon, eu não consigo falar com ela, o que houve?
Conto o que aconteceu, e quando finalizo ela pergunta, com medo:
— Então ele voltou?
— Temo que sim! — olho para os policiais que ainda estavam ali e pergunto: — Agora, o que vocês vão fazer para trazer a minha namorada de volta para mim?
— Senhor Vitorino, vamos abrir uma denúncia sobre agressão sobre o senhor e vamos investigar o que aconteceu, e depois daremos continuidade e faremos a declaração de desaparecimento, mas para ela ser oficializada temos que aguardar as vinte e quatro horas pelo menos — diz o policial, e olho para ele chocado:
— Como é que é?
— Foi o que o senhor ouviu, sinto muito!
— Não mesmo, eu não vou ficar aqui esperando dar as malditas vinte e quatro horas para vocês poderem ir atrás da minha namorada.
— Senhor Vitorino, o senhor não pode fazer nada.
— Ah, vamos ver se não! Eu quero ver as filmagens do shopping e quero descobrir onde foi parar a minha namorada.
— Eu gostaria de fazer-lhe algumas perguntas sobre a sua irmã, Senhorita Sanches — ouço a policial pedindo para a Vane, que me olha e diz:
— Já venho, Leon! — aceno em concordância e tento procurar meu celular.
— Cadê o meu celular?
— Quando o senhor chegou aqui, no hospital, o guardamos — responde a médica.
— Doutora, eu preciso dele para chamar um táxi — aviso, já perdendo a paciência com eles. — Eu mesmo vou procurar a minha namorada!
— O senhor tem que se acalmar, Senhor Vitorino — pede a médica, que eu nem sabia que ainda estava no quarto ouvindo tudo.
— Eu, me acalmar, doutora? — respondo, irônico, puxando os fios do soro. Começa a sangrar, e ela me olha horrorizada.
— Se acalme, Senhor Vitorino! — ela pede novamente.
— Eu não posso me acalmar sendo que eu não sei onde está a minha namorada! Como querem que fique aqui de boa sendo que eu nem sei se a minha namorada está machucada ou não?
— O senhor está machucado e sangrando! — a doutora fala, e olho seu crachá. Seu nome é Luana Rezende, e observo-a dar sinal para os enfermeiros, que logo estavam ao meu lado me deitando e me segurando com força.
— Me soltem! — grito, desesperado. — Eu preciso ir atrás da minha namorada!
— Senhor Vitorino, o senhor deu entrada aqui no hospital com uma concussão na cabeça e precisamos deixar o senhor passar a noite aqui para verificarmos se não teve sequelas.
— Nãooooo, eu não quero ficar aqui! — grito, com medo.
— Senhor Vitorino, tente ficar tranquilo, que vamos atrás de sua namorada — o policial me avisa.
— Eu também quero ir!
— Não, o senhor vai seguir o que a doutora falou!
— Eu não vou seguir ordem de ninguém, eu vou sair daqui, e vai ser agora! — grito alto, e sinto que os enfermeiros estavam me segurando com força.
— Preparem um sedativo leve para acalmá-lo — a doutora pede, e olho para ela em pânico. Eu não podia dormir. Tinha que ficar em alerta, minha rainha precisava de mim.
— Não, por favor, eu não posso dormir! — peço, desesperado, vendo-os trazerem uma seringa. Logo meu braço estava sendo amarrado com uma borracha, e eu tentava tirá-lo para não levar a injeção.
— Sinto muito, Senhor Vitorino, mas o senhor precisa de um sedativo para ficar tranquilo.
Então observo a doutora dar o sinal e logo sinto a picada em meu braço. Os enfermeiros me soltam e vão embora.
— Vocês não podiam ter me dado essa injeção!
— Foi para o seu bem, Senhor Vitorino.
— Não foi para o meu bem! — sinto meus olhos começarem a se fechar e, antes que eu perdesse a consciência, meu último pensamento foi para a minha rainha, e era como se eu pudesse vê-la ali ao meu lado. Comento comigo mesmo: — Me perdoa, minha rainha, por não conseguir ir te resgatar! — sinto as lágrimas começarem a escorrer em meus olhos e sou sugado pela escuridão em que fui colocado.