Ao retornar para casa, comecei a arrumar minhas coisas para a jornada solo que estava prestes a começar. Vesti uma camisa preta de manga comprida por baixo de uma armadura leve de cor amarela pura e calças pretas que combinavam com a camisa. Usei luvas, botas e um cinto para acomodar as espadas curtas, todos esses itens da mesma cor da armadura e dos meus olhos.
Sentia-me poderoso, como se a escuridão me envolvesse e me fizesse brilhar.
Recebi uma carta, ou melhor, alguém simplesmente a jogou sob a porta. Eram poucos os que conseguiam chegar a dois metros perto de mim.
— Uma carta do líder? — Pelo selo e aspecto dela, parecia autêntica. Abri a carta e encontrei uma mensagem breve.
"Venha para o auditório imediatamente. Izumi."
Ao ler a carta, tive certeza de que era genuína. Apenas o líder escreveria algo assim de maneira tão direta.
— O que será que ele quer?
Eu tinha minhas suspeitas. Entrei no auditório e logo senti novamente aquela onda de repulsa que sempre me atingia. O líder estava no centro do palco, à sua direita estavam outros membros importantes e à sua esquerda estava a pessoa que eu mais temia.
— Sempre atrasado, como de costume. — disse o líder.
— Minhas desculpas, estava me preparando para sair daqui. — retruquei.
— Esse é o ponto. Você não irá sozinho.
Minhas suspeitas foram confirmadas; desde o início, o velho nunca pretendia cumprir o acordo. Antes do torneio decidir quem era o mais forte de Mangolândia, eu propus que, se ganhasse, ele me permitiria partir sozinho. Mais uma vez, ele me traiu.
— Eu não aceito!
Não podia concordar em ir a um lugar perigoso com pessoas que a qualquer momento poderiam me atacar desprevenido.
— Você não tem escolha, Izumi. É aceitar ou desistir.
O velho falou com uma expressão séria e me encarou, mas eu também mantive a seriedade.
— Tanto faz. Velho! — Mantive minha postura e encarei-o de volta.
— Você não entendeu, Izumi. Realmente não deseja saber?
Não imaginava que ele usaria isso, recorrer às minhas origens como uma maneira de me convencer.
— Thirk!
Não disse mais nada, e o velho entendeu que eu havia aceitado, embora ele pudesse ver claramente que estava muito chateado.
— Max e Izumi já se conhecem, então gostaria de apresentar Idalme. Ela é médica e será de grande ajuda em nossa jornada.
— Você só vai atrapalhar!
— Disse alguma coisa, Izumi? — Perguntou o velho.
— Nada. — Não havia muito que eu pudesse fazer, o velho tinha controle sobre mim.
A mulher estava do outro lado do auditório, mas quando foi chamada para se juntar ao time, aproximou-se rapidamente de Max e com um sorriso claramente falso disse:
— Max, eu sou uma grande fã, você pode me dar um autógrafo?
Essa mulher devia pensar que enganou todo mundo com seus peitos caídos, que balançavam de um lado para o outro enquanto ela tentava persuadir vários com suas palavras melosas.
— Perda de tempo.
A mulher de peitos caídos olhou na minha direção e me encarou, não com olhos de rancor, mas de pura raiva.
— O que foi? Não gostou do que viu?
— Já ouviu falar de alguém que goste de monstros? — A mulher de peitos caídos respondeu com um sorriso zombeteiro.
— Não dou a mínima para o que você diz. Peitos caídos!
— Seu maldito. O que disse? — Com raiva, peitos caídos, respondeu.
— Silêncio! — gritou o velho. — Este é o grupo de combatentes mais jovens já formado na história de Mangolândia. Em particular, Izumi, o mais jovem do grupo, com apenas quinze anos, vai se aventurar além dos limites da cidade. Deveriam se sentir afortunados.
— Observe a minha expressão de felicidade. — falei seriamente.
Encarando-me, o velho esboçou um sorriso, claramente zombando de mim. Velho maldito.
— Não escreveu nada.
— E não vou escrever!
— O que fiz de errado?
Max virou as costas e foi embora.
— Se ferrou, peitos caídos. Hahaha! — Também saí.
— Seu…
Não pude ver o rosto dela, mas podia sentir o olhar furioso. Uma verdadeira vadia de peitos caídos.
— Esses garotos. A reunião mal tinha começado e já estamos terminando por aqui.
Todo o meu plano foi por água abaixo, e agora eu estava prestes a viajar com humanos. Poderia lidar com Max, mas a mulher de peitos caídos era um perigo.
— Eu a matarei na primeira oportunidade! — Por fora, mantive a aparência normal, mas por dentro, minha malícia ardia intensamente.
Novamente em meu quarto, coloquei minhas espadas no cinto que havia conseguido comprar no mercado negro com muito esforço. Naquele lugar, todos cuidavam de mim, contanto que eu pagasse a quantia certa.
Assim que vi aquelas espadas duplas curtas à venda, uma preta e outra branca, não pude resistir e comprei imediatamente. Tive um problema com o vendedor, já que ele tentou me enganar, mas logo resolvemos a situação com um pouco de violência.
Essas belezinhas definitivamente foram feitas sob medida para mim. Uma delas era idêntica aos meus dentes, com um padrão serrilhado, enquanto a outra era branca, combinando perfeitamente com o meu cabelo cacheado.
Após me despedir do meu quarto, dirigi-me à porta principal e os vi esperando por mim.
— Thirk!
Estava frustrado com isso, o plano era escapar após esperar por um minuto, mas mais uma vez essa ideia foi por água abaixo.
— Não me atrapalhem. — aproximei-me e falei.
— Nem me fale — Peitos caídos retrucou.
Ela ainda me encarava com aqueles olhares, e no momento em que ela respondeu, Max soltou um sorriso. Era óbvio que ele estava rindo da minha cara.
— Vamos lá! — disse Max.
— Não se faça de líder.
— Dois contra um. Max é o líder! — Ela retrucou mais uma vez, até fez careta para mim.
— Sou líder de mim mesmo. — falei com convicção.
Os guardas abriram os portões e saímos. Olhando para fora, pude perceber duas coisas. Primeiro: aqueles guardas não me deixariam sair sem um grupo. Segundo: o mundo lá fora era completamente diferente.
O cheiro de sangue impregnava o ar, mostrando que a cidade era frequentemente atacada, embora sem sucesso. Os corpos dilacerados no chão, resultado de alguma técnica de longo alcance, me chamaram a atenção.
— Parece mesmo o inferno aqui. — comentei, esboçando um sorriso empolgado.
Das sombras emergiram dois demônios hostis com a pele totalmente negra, movendo-se de maneira irregular. Pensei que poderia sentir alguma conexão com eles, mas estava enganado. Minha vontade de matar só aumentara.
— Mãe. Aqui começa minha vingança. — sussurrei enquanto olhava o céu.
Fechei os olhos e, ao abri-los, liberei minha sede de sangue. Eles se aproximaram rapidamente, e eu os encarei com determinação. Puxei minhas espadas com agilidade.
— Venham!
Ambos saltaram em minha direção. Eu também dei um salto giratório, segurando firmemente minhas armas.
"Primeira forma."
Aproximei-me o suficiente, cortei os dois de uma vez, enquanto estávamos no ar.
"Kotxi giratório!"
Aterrissei no chão com uma pose impressionante, um sorriso demoníaco no rosto e soltei minha frase de efeito.
— Você foi humilhado!
Levantei e olhei para o céu, segurei firme minhas espadas e pensei:
"Demônios, por vossa existência, exterminarei a todos! Destemidos, por prolongarem o sofrimento da minha mãe, não vos concederei perdão! Rei Demônio, por teres causado sofrimento à minha mãe ao me dar à luz, vou te eliminar! Humilharei todos vocês!"