Harry's P.O.V
Mais um serviço completo.
Despachei aquele ômega asqueroso e creio que a essa altura Josh já tenha mandado alguém para se livrar do corpo e limpar o local, afinal, não podemos deixar rastros. Agora tudo o que eu preciso fazer é chegar em casa, tomar um bom banho, me deitar e esperar o dinheiro cair na minha conta. O ramo do assassinato, como eu gosto de chamar, é realmente difícil e com certeza não é para qualquer um, mas eu particularmente tenho me saído bem nos últimos anos.
Quando eu tinha apenas alguns meses de vida fui deixado na frente de um orfanato. Segundo as freiras, havia uma carta da minha "mãe" comigo que dizia que ela não me queria apenas pelo fato d'eu ser um alfa. Os anos foram passando e eu cresci naquele orfanato junto com as irmãs, e não sei porque mas não conseguia ser adotado. Talvez as pessoas pensassem o mesmo que a minha mãe, ou talvez apenas não me quisessem, mas eu realmente não ligava! Era ridícula a forma como os adultos iam até os ômegas e falavam "Oh, que lindinho. Eu quero esse!" como se eles fossem algum tipo de cachorrinho ou qualquer outra merda de animal fofinho enquanto nós, os alfas, éramos os vira-latas que todos ignoravam e deixavam de lado. Eles nos olhavam como se fôssemos infectos que carregavam uma doença super contagiosa. Mas mesmo assim alguns ainda conseguiam ser adotados. Na verdade todos foram.
Menos eu...
Talvez a vida não gostasse muito de mim, né?
Quando fiz sete anos, um menino novo chegou ao orfanato. Era um alfa loirinho com belos olhos azuis, assim como o céu, e arredio que só! Ele era o terror das irmãs e com o tempo fui gostando cada vez mais dele, até que passei a cuidar do menininho que na época tinha apenas dois anos. Luke e eu crescemos juntos, cuidando um do outro, e para a nossa sorte fomos adotados no dia do meu aniversário de doze anos por um casal de estranhos que apareceu no orfanato pela primeira e última vez.
Robin e Anne...
O casal chegou à casa e logo foram cercados por todas as crianças, vários alfas e alguns ômegas, mas surpreendentemente a mulher lançou um sorriso doce para dois alfas que ficaram distantes sem fazer muita questão de se aproximar e de serem notados. Eu fiquei muito surpreso quando a madre disse que eles haviam gostado de nós, e que não só iriam adotar o Luke como a mim também. Eles nos tratavam super bem e logo nos adaptamos, mas não muito tempo depois Robin veio nos contar que seríamos treinados. De primeira eu não entendi então apenas concordei, afinal naquela época eu e meu irmão não tínhamos muito conhecimento sobre a vida, então não nos restava muitas opções além de aceitar, não é?
O tempo foi passando e os treinos se intensificando. Passamos a treinar mira com armas de fogo, arco e flecha, aprendemos a usar facas e, princialmente, a nos defender fisicamente. Combate corporal era o que Robin mais fazia questão de nos ensinar pois dizia que nosso corpo é a única arma que não falha e é a única que nunca poderá ser tirada de nós, a menos que já não tenhamos mais condições de lutar! Nós conhecemos o Josh, filho biológico de Robin e Anne, e de cara já nos demos super bem. Com o passar dos anos e dos treinamentos nós nos tornamos irmãos e até os dias de hoje somos inseparáveis! Descobrimos que o senhor gentil que nos adotou era nada mais nada menos que o maior assassino de Londres, e essa era a causa de tanto treino. Ele dizia que nós precisávamos saber nos defender pois éramos alvos em potencial e a qualquer momento poderíamos ser atacados, mas justamente quem tanto nos avisou foi o que caiu primeiro.
Pobre Robin...
Robin foi morto por um de seus rivais, junto com Anne. Foi um choque para mim e os meninos, mas não nos demos ao luxo de ficarmos tristes afinal eles morreram lutando, exatamente como queriam. Nós três apenas assumimos seus lugares nos "negócios da família". Hoje em dia Josh fica com a parte técnica, burocrática e apaga os vestígios, enquanto eu e Luke trabalhamos no campo. Nós fazemos o serviço sujo.
Aos dezessete anos, no colegial, eu comecei a namorar um garoto. Desde que fomos adotados, eu e Luke sempre tivemos uma vida dupla (N/A: Por isso o nome, caso não tenham entendido... DUPLE = Duplo = Vida dupla) mas isso nunca nos incomodou. Sempre fomos treinados para nunca deixar nossos sentimentos falarem mais alto, entretanto quando conheci aquele garoto... Foi impossível controlar! Nicholas Grimshaw fez eu me apaixonar por ele e inconscientemente eu me joguei de cabeça, afinal nunca havia sentido nada como aquilo! Eu o conheci no início do ano letivo e logo viramos amigos, melhores amigos, e quando dei por mim estava aceitando seu pedido de namoro. Nunca poderia imaginar que aquela seria a pior escolha da minha vida!
Um dia Nicki não apareceu no colégio e eu estranhei, afinal ele não era do tipo que faltava aulas. Grimshaw era um típico ômega certinho, inteligente, bonito, sensível, mas era um nerd completo... Com certeza ele não faltaria! O dia se passou comigo mandando mensagens e mais mensagens, ligando diversas vezes, mas nenhuma vez obtive resposta. Depois de desistir de tentar contato com ele eu decidi ir diretamente a sua casa e me surpreendi ao encontrar a porta arrombada. Eu sem pensar duas vezes abri a porta e dei de cara com aquela cena que ainda me perturba e me persegue em forma de pesadelos a noite: Nicki e seus pais estavam estirados no chão, todos mortos. Os pais de Nick apenas estavam com perfurações no peito, mas ele... Ele estava amarrado, sangue por toda parte, pescoço cortado...
Meu Nicki....
Ah, Nicki...
Pobre Nicki!
Acho que aquele dia foi o primeiro em anos que eu chorei de verdade. Talvez havia sido a primeira vez na vida que eu chorei de verdade. Eu amava aquele garoto e apenas fiquei com ele, mas esqueci de avisar do risco que ele corria estando comigo. Afinal, quem ficaria depois de saber que sou um assassino e que por isso poderia ser morto a qualquer momento por alguém que quisesse me atingir? Eu fui imprudente, me deixei levar por sentimentos, e mesmo sabendo onde aquilo daria eu quis continuar. Eu destruí a vida do ômega, de seus pais... Eles eram pessoas inocentes e foram mortos por minha causa!
Pensar que poderia me relacionar como uma pessoa normal foi meu maior erro!
Depois daquele dia, depois dele, eu me fechei totalmente e me dediquei inteiramente ao meu trabalho e graças a isso hoje sou considerado um assassino melhor que Robin. Melhor que meu pai! Mas cinco anos se passaram desde então e eu estou começando a me sentir cansado. É até irônico pensar em me aposentar com apenas vinte e dois anos, mas creio que as leis não se apliquem ao meu tipo de trabalho, não é?
Recentemente eu sinto que estou perdendo o controle sobre as coisas, sobre o que sinto, sobre mim mesmo! É ridículo pensar que eu fui treinado para ser uma princesa Elsa da vida... "Não sentir" era meu mantra, e como dizia Robin "Se você controlar seus sentimentos, os aprisionar em um lugar distante e manter-se sempre neutro e frio, essa frieza irá te tornar um bom assassino". Mas mesmo que por anos tenha sido assim, agora eu apenas não conseguia mais conter. Todos esses sentimentos que eu lutei tanto para reprimir nos últimos anos estavam dando um jeito de escapar por todas as brechas que se formaram no muro que eu mesmo ergui.
Droga, eu me importei com aquele ômega! Quero dizer... Victor era traficante de pessoas e ao saber disso algo em mim despertou um ódio, algo em mim tornou aquele serviço extremamente pessoal. Mas não deveria ser! O que a encomenda fez, faz ou deixa de fazer não interessa, o que interessa é completar o serviço! Apenas! Porém eu me senti extremamente incomodado e acabei me deixando levar...
- No que você tanto pensa, Hazz? - Luke pergunta, sentando-se ao meu lado no sofá. O loiro tem uma xícara de chocolate quente em suas mãos, e a bebida deixa um cheiro delicioso no ar.
- Eu quero me aposentar... - Solto logo de uma vez e Hemmings quase cospe a bebida que está em sua boca. Mesmo tendo sido adotados pelos mesmos pais nós preferimos manter os nossos nomes originais, por isso ele se chama Hemmings, enquanto eu sou Styles.
- O QUÊ? - Grita me olhando, mas eu nem tiro meus olhos da TV. Acabo suspirando...
- Ah, Luke... Eu não consigo mais, ok? - Finalmente decido olhar meu irmão. O loiro mantém uma expressão indecifrável. - Você lembra do mantra, não lembra?
- "Não sentir"... - Dizemos em uníssono, e ele baixa o olhar. Com certeza lembrando de nossos pais.
- Eu não consigo mais manter isso. Eu não consigo mais "não sentir", irmão... - Murmuro tristemente.
- Eu sei. Eu venho te observando nos últimos serviços e a cada dia que passa você parece mais estar deixando seus sentimentos e emoções te dominarem. Você até conversou com o último ômega. - Ele ri pois aquilo nunca aconteceu.
- Eu não sei o que é, Lukey, mas parece que todos os sentimentos que vim reprimindo durante anos estão lutando para se libertarem. - Suspiro pesadamente. - Você não se sente assim?
- Pra falar a verdade... Sim... - O loiro fala coçando a nuca, meio que não querendo admitir. - Às vezes sinto que até meus instintos estão me controlando, e olha que eu não deixo de tomar a nossa pílula. É só que... Às vezes parece que o supressor não está mais fazendo efeito... Você até conseguiu rosnar hoje!
Só depois das falas do loiro é que eu paro pra pensar. Desde sempre nós tomamos supressores que são pílulas que neutralizam a parte lupína de nosso DNA, ou seja, nós não somos como os alfas, ou até mesmo ômegas... Nós nos tornamos "seres humanos normais", como os betas... Mas agora, pensando bem, realmente as pílulas não tem mais surtido efeito.
- Você tem razão... - Um instante de silêncio se forma entre nós, mas logo eu mesmo o quebro. - Então... Você está de boa?
- Claro, Harry! Você é meu irmão e eu sempre vou te apoiar em qualquer decisão que faça! Eu só fico preocupado... - Ele hesita. - Você sabe o quão difícil é sair dessa vida...
- Eu sei, Luke, mas eu vou dar um jeito! - Digo e jogo meu braço por cima de seu ombro, o puxando para um abraço de lado. - E eu ainda vou levar você comigo, irmãozinho!
- Eu... - O mais novo é interrompido pelo telefone, e pelo toque sabemos na hora que é Josh.
Hemmings se levanta e corre até o aparelho, atendendo logo após o terceiro ou quarto toque, enquanto eu volto a prestar atenção no desenho que está passando. Steven Universo o nome, e eu sou louco por ele!
- Ok. Eu e Harry estamos indo... Sim, eu digo a ele. - Minha atenção volta para meu irmão quando o ouço dizer meu nome.
- O que tem eu? - Pergunto mas ele apenas sinaliza para que eu espere.
- Tudo bem, Josh. Relaxa, você não está importunando. - Ri. Josh e essa mania de sempre achar que está nos incomodando. - Sim, nos encontramos em uma hora. No lugar de sempre? Tudo bem... Tchau!
- Fala logo! - Peço impaciente enquanto o vejo colocar o aparelho no carregador.
- Josh disse que quer se encontrar com a gente, só pra conversar.
- E por ser nosso dia de folga ele achou que estava incomodando, né? - Eu pergunto e ele acena positivamente, rindo logo em seguida, e eu o acompanho.
Luke resolve se arrumar, e como eu já estou praticamente pronto continuo vendo meus desenhos. Se passam meia hora e logo nós teremos que sair, então resolvo ir até a cozinha comer algo já que estou morrendo de fome. Eu e Luke moramos num apartamento não muito grande e nem um pouco luxuoso, só para não chamar atenção, mas é consideravelmente confortável. Afinal somos só nós e não trazemos ninguém aqui, então isso não importa muito.
Como ainda tenho tempo e estou terminando de comer meu sanduíche, resolvo checar minha conta bancária. Os zeros que haviam depois de alguns outros números deixariam qualquer um embasbacado, mas para mim isso é comum, e depois de ontem percebo que há alguns números a mais. Eu sinceramente nunca liguei muito pra isso. Bens materiais nunca me seduziram tanto. Pensando bem, nada nunca me seduziu. Sempre fomos apenas eu, Luke, Josh e o trabalho. Sem diversões, sem namoros, algumas "ficadas", mas sem amigos... Apenas nós três. Eu não foco mais em nada sem ser meus irmãos e meus serviços, e esse é mais um dos motivos de eu querer largar esse ramo difícil.
Estou pronto para sair, apenas esperando Luke, quando meu celular apita indicando que eu tenho um novo e-mail. Confesso que fico surpreso, afinal nunca o ponho em lugar nenhum para evitar ser rastreado ou algo do tipo, então consequentemente não recebo e-mails... Então como eu acabei de receber um?
- Estranho... - Sussurro.
Peguo o aparelho abrindo a barra de notificações e vendo que o destinatário é "anônimo" e o título do email é "Harry Styles".
Okay, ficou mais bizarro ainda. Ninguém além dos meus irmãos sabe o meu nome verdadeiro!
- Ah, não... Sou famoso no submundo. Esqueci. - Acabo rindo de mim mesmo.
Leio atentamente o e-mail suspeito. Nele está dizendo que um contratador muito rico tem um serviço para mim. Outro ômega, mas dessa vez é o filho de uma magnata, Johanna Tomlinson. Ela é bem rica e bastante conhecida, por sinal... Fico surpreso por esse serviço tão inusitado. Afinal, por que eliminar o filho da mulher? Para a atingir? Por que não eliminar logo a magnata? O e-mail é bem detalhado e contém bastante informações sobre meu "serviço".
- Louis Tomlinson, ômega, 17 anos, estudante... Um serviço simples, provavelmente algum rival da empresária, algum concorrente, ou algum desafeto pessoal... - Murmuro enquanto leio atentamente.
De qualquer forma, não importa! O valor que ofereceram pelo serviço é mais alto que o usual. Cinco grandes e gordos milhões de euros!
Respondo dizendo que aceito o serviço e logo recebo outro e-mail com uma foto do ômega anexada.
E, minha nossa...
Como o filho da mãe é lindo!
Louis tem olhos azuis que parecem até brilhar, rosto angelical, bochechas rosadas, cabelos lisos e castanhos, pele levemente bronzeada, boca rosada... E o corpo... Ah meus amigos, que corpo! E olha que deu pra notar tudo isso apenas com uma foto! De início deu até uma pena de ter que matar esse garoto tão lindo, e que pela foto ele parece ser tão inocente... E mais uma vez eu me pego perguntando o porque dele ser o alvo, mas decido aceitar mesmo assim.
- Harry, vamos? - Luke perguta chegando a cozinha e me tirando de meus pensamentos.
- Sim, vamos! - Respondo pegando minhas chaves e seguindo o loiro até o carro.
"Esse garoto é bonito demais pra eu apenas matar..." Penso, e é inconsciente mas quando dou por mim estou com um enorme sorriso nos lábios e uma ideia incrível em mente...