"Droga, mais rápido, preciso correr mais rápido! Se ao menos minhas costelas não doessem tanto!"
Atrás de Kael, uma horda de infectados o perseguia. Não era a primeira vez que passava por isso; ele já havia sido caçado antes, devido à trilha de sangue deixada após abater um animal durante uma caçada. Mas desta vez foi diferente, suas costelas quebradas cobravam um alto preço a cada respiração.
Um caçador experiente como ele sabia lidar com alguns zumbis, mas uma horda era algo completamente diferente - ser atacado de todos os lados significava a morte certa.
"Urgh, merda! Por que tantos infectados estavam reunidos no centro da cidade durante o dia?"
Com um gemido de dor, ele continuava a fuga em direção ao Campo dos Sentinelas. 'Aqueles idiotas devem ter atraído os zumbis ao recuar para o subúrbio sul.'
'Eu odeio ter que fazer isso, mas vou precisar atravessar o Rio da Fronteira. Os infectados perderão meu rastro quando eu usar o caminho dos caçadores.'
Com esse pensamento, ele seguiu em frente, esforçando-se para manter distância dos infectados que o perseguiam como cães de caça famintos. Depois de algum tempo, Kael avistou o rio que separava Helium da floresta ao redor da Cidadela de Élios.
Uma antiga ponte ligava as fronteiras separadas pelo rio. 'Como sempre! Continua fechada!' A visão da ponte, mesmo meio destruída, trouxe-lhe um alívio genuíno. Com o portão de aço bloqueando o acesso, os infectados não teriam como atravessá-la.
Sem perder tempo, ele mudou o foco e desceu rapidamente até a margem do rio, onde uma estreita "ponte" de madeira conectava as margens opostas. Tão estreita que permitia apenas uma pessoa por vez, e, sem apoios laterais, exigia total equilíbrio de quem se aventurasse.
Com passos rápidos, Kael iniciou a travessia da ponte improvisada. Atrás dele, os infectados rugiam, hesitantes, paralisados de medo diante do rio caudaloso. Alguns tentaram avançar, mas caíram e foram arrastados pelas violentas águas.
'Merda, dois ainda conseguiram me seguir até aqui,' pensou Kael, recuperando o fôlego já na margem segura. Ele sacou a adaga da cintura, adotando uma posição de ataque enquanto aguardava o primeiro zumbi se aproximar.
Woosh! O som da adaga cortando o ar ecoou pela margem. Com o braço esquerdo estendido, Kael atacou o pescoço do primeiro infectado que havia terminado a travessia, sua lâmina reluzindo sob a luz a dourada do pôr do Sol.
"Urgh!" Um gemido escapou de seus lábios quando a dor lancinante das costelas o atingiu, fazendo seus dentes rangerem. Ainda assim, o ataque foi eficaz; o zumbi cambaleou, caindo no rio e sendo arrastado pela correnteza.
Mas o segundo infectado já vinha logo atrás, e aproveitou a queda do companheiro para lançar-se contra o caçador debilitado. Sem garras, mas com dedos ásperos e insensíveis, o monstro tentou agarrá-lo, enquanto a boca, salivando descontroladamente, se abria para arrancar um pedaço de Kael.
Thud! Os dois rolaram pela margem coberta de terra. "Droga! Por que todo mundo quer me matar hoje?" Kael exclamou, dentes cerrados pela dor, enquanto flexionava os joelhos e empurrava o infectado para longe.
Com uma voz rouca, o zumbi rugiu ao se levantar, correndo de volta em direção a Kael, que ainda estava no chão. Flexionando os joelhos, o monstro saltou novamente, mirando as pernas do caçador, pronto para saborear sua carne.
Thud! Um chute forte fez a cabeça do infectado girar, quebrando vários dentes com o impacto do coturno preto de Kael. Enquanto o monstro rolava, o caçador aproveitou para se levantar. Cambaleante, alcançou a adaga caída e avançou em direção ao zumbi, que, zonzo, tentava se reerguer.
Roah! O monstro rugiu novamente, mas Kael não hesitou. Woosh! A adaga cortou o ar em um arco decidido, de cima para baixo. Thud! O som da lâmina encontrando o crânio ecoou pela margem.
"Desgraçado de merda... Você terminou de ferrar minhas costelas, e eu ainda preciso chegar ao Campo dos Sentinelas antes do anoitecer..."
Abrindo os olhos, Kael despertou mais uma vez no hospital de campanha. Dessa vez, seus braços e pernas estavam livres, e o soldado que antes o vigiava não estava mais ao lado de sua cama.
Com algum esforço, ele se ergueu e se sentou. A dor na lateral ainda incomodava, mas agora era mais suportável. Ao levantar a camisa marrom, viu o torso enfaixado em gaze branca, com uma grande mancha roxa escura sobre as costelas do lado direito.
Alguns segundos depois, o médico grisalho, usando uma braçadeira que o identificava, entrou no quarto. Quando Kael tentou se levantar, o homem logo o advertiu:
"Tente não forçar tanto. Sei que caçadores têm alta tolerância à dor e uma recuperação rápida por causa das injeções de despertar, mas ainda precisa de tempo para se recuperar."
"Vou te recomendar algumas ervas. Pode comprá-las no herbário que fica no centro de Élios", disse o médico, aproximando-se da mesa para escrever o nome das folhas e raízes medicinais. "Não são tão eficazes quanto as que usamos aqui, mas vão ajudar na sua recuperação e aliviar suas dores."
"Obrigado novamente!", disse Kael, ainda debilitado, ao receber a receita.
"Não se esqueça, a conta pelo atendimento e pelas ervas utilizadas será cobrada em seu nome na central dos caçadores de Élios." O médico se preparava para sair do quarto improvisado.
"Espere, por gentileza. Gostaria de agradecer pelos cuidados. Sei que faz parte do seu trabalho, mas, por favor, aceite isso como um sinal de apreço pelo seu bom serviço."
Kael pegou sua bolsa improvisada do chão e abriu o zíper, vasculhando o interior da "mochila-jaqueta" enquanto o médico o observava com curiosidade.
"Aqui está! Não é muito, mas deve ser o suficiente para o café da manhã ou almoço!"
Com um brilho nos olhos, o homem grisalho aceitou o pedaço de lebre oferecido. A carne ainda exalava um leve aroma de fumaça, como se tivesse sido defumada.
"É pouco, mas garanto que é deliciosa!"
"Obrigado... é raro ter caçadores que agradecem nossos esforços", disse o médico, enquanto a boca salivava.
Conseguir carne que não fosse de porco ou frango era um verdadeiro luxo. Lebres só podiam ser encontradas na natureza selvagem e, após o apocalipse, morriam naturalmente antes de atingirem o ponto de abate em cativeiro. O mesmo acontecia com outros animais, e, quanto às vacas de três chifres, para manter uma criação lucrativa, era necessário um grande pasto, algo difícil de proteger atualmente.
Virando-se para sair após agradecer, o médico deu o primeiro passo, mas foi interrompido pela voz de Kael.
"Desculpe incomodá-lo novamente, mas há algo que gostaria de perguntar."
O grisalho parou, lançando um olhar curioso ao caçador. "Vá em frente. Se não for algo impossível, posso responder."
"Você, por acaso, cuidou de alguém ontem, antes de mim? Um homem com estilo militar, mas sem roupas oficiais. Ele estava acompanhado de uma mulher de cabelos negros e mais três homens."
O médico estreitou os olhos por um momento antes de responder. "Informações sobre pacientes são sigilosas. Não posso responder sua pergunta."
Kael suspirou, visivelmente frustrado, mas insistiu: "Não é curiosidade vazia. Meu estado agora se deve ao descuido deles. Fui encurralado por uma horda de infectados no centro de Helium por causa deles. O resto você já sabe..."
O médico ficou em silêncio por alguns segundos, avaliando a situação. "Como foi muito educado e gentil, vou te dar um aviso breve: não tente se vingar de ninguém daquele grupo. Eles são enviados da capital."
Kael franziu o cenho, surpreso com a resposta. Antes que pudesse falar algo, o homem grisalho continuou:
"Bem, se isso é tudo, com licença. Tenho outros pacientes para atender."
Sem dar margem para mais perguntas, o médico saiu, deixando Kael pensativo com a nova informação.
'Por que a capital enviaria um grupo de pessoas treinadas para Élios? É uma viagem longa demais, cheia de riscos de ataques durante o percurso... E por que aquele monstro gigante apareceu justamente quando eles chegaram?'
Kael franzia a testa enquanto organizava seus pertences. Cada movimento fazia suas costelas protestarem, mas ele ignorava a dor, perdido em seus pensamentos. Algo não se encaixava, e a sensação de que estava envolvido em algo muito maior do que imaginava era sufocante.
Ao sair do hospital de campanha, foi recebido por um céu cinzento. O Sol se escondia atrás das nuvens densas, como se espiasse com curiosidade os eventos que se desenrolavam abaixo. Kael parou, observando o horizonte, sentindo o ar carregado e úmido.
"Hum... A chuva cairá em breve..."