Darius retornou a Valdara com os primeiros raios de sol, exausto, mas com a sensação de dever cumprido. A vitória contra as criaturas sombrias havia sido um grande teste de sua força e determinação, mas ele sabia que não poderia baixar a guarda. As sombras ainda espreitavam ao redor, e ele não podia prever o próximo ataque.
Enquanto caminhava pelas ruas tranquilas do vilarejo, os moradores o observavam com olhares de alívio e gratidão. As notícias sobre a batalha na noite anterior já haviam se espalhado, e embora poucos soubessem exatamente o que ele fizera, todos sentiam que estavam seguros por sua causa.
"Darius!" chamou uma voz familiar. Ele se virou e viu Thalia se aproximando rapidamente, com uma expressão de preocupação. "Precisamos conversar. Há alguém que quer te ver... um visitante misterioso."
Darius franziu o cenho, intrigado. "Um visitante? Quem seria?"
"Ele chegou ao amanhecer, mas se recusou a falar com qualquer pessoa além de você. Disse que veio de terras distantes em busca do novo Guardião das Sombras."
Darius trocou um olhar preocupado com Thalia, sentindo um aperto no peito. A ideia de que alguém de longe soubesse sobre ele e sobre sua posição como Guardião era inquietante, e ele não podia deixar de questionar a intenção daquele visitante.
Ao chegar à casa de Thalia, Darius foi levado até uma sala de estar onde um homem esperava. Ele era alto e magro, com cabelos negros e olhos cinzentos, vestindo uma capa escura que parecia fundir-se com as sombras ao redor. Sua presença exalava uma energia estranha e quase hipnotizante, que deixou Darius alerta.
O homem sorriu de forma sutil ao vê-lo. "Você deve ser Darius, o novo Guardião das Sombras," disse ele em uma voz calma e profunda. "Meu nome é Kael, e sou um estudioso do mundo das sombras. Ouvi rumores sobre um novo Guardião e vim lhe oferecer minha ajuda... e meus conhecimentos."
Darius manteve-se cauteloso. "De onde você vem, Kael? E por que se interessaria em ajudar um Guardião?"
Kael deu um leve sorriso, cruzando os braços. "Venho de um lugar muito distante, uma terra onde as sombras são respeitadas e estudadas. Diferente de você, não carrego o fardo de ser um Guardião, mas sou um profundo conhecedor das forças que você agora controla. Posso ajudá-lo a compreender melhor os poderes que carrega e a enfrentar as ameaças que, acredite, não se limitam a este vilarejo."
Darius sentiu um calafrio. Havia verdade nas palavras de Kael, mas algo sobre ele despertava uma sensação de perigo. Apesar disso, a proposta do homem era tentadora. Ele sabia que precisava de orientação para entender o poder das sombras. A batalha da noite anterior deixara claro que seu domínio sobre o poder ainda era limitado.
"Como posso confiar em você?" perguntou Darius, firme. "As sombras trazem consigo forças difíceis de controlar. E como sei que não está aqui com outros motivos?"
Kael ergueu as mãos, em um gesto de paz. "Sei que o título de Guardião faz com que você desconfie de todos, e está certo em fazê-lo. Mas vou lhe provar que minhas intenções são verdadeiras. Ao longo dos anos, estudei formas de canalizar as sombras e utilizá-las não como uma maldição, mas como uma ferramenta de equilíbrio."
Thalia, que permanecera em silêncio até então, finalmente falou. "Darius, Kael possui uma aura diferente. Eu mesma senti isso. Ele parece ter um conhecimento profundo, e o que ele disse sobre o equilíbrio faz sentido. Mas a decisão é sua."
Darius ponderou. Não podia negar que o conhecimento de Kael seria valioso, e talvez aquela fosse uma oportunidade única para aprender a dominar os poderes sombrios. Mas havia uma condição que ele precisava estabelecer.
"Se eu aceitar sua ajuda, você seguirá minhas regras," disse Darius, firme. "Se houver algum indício de traição, não hesitarei em te expulsar de Valdara."
Kael sorriu, inclinado a cabeça em uma leve reverência. "Concordo com seus termos, Guardião. Estou aqui para auxiliá-lo, nada mais."
Darius assentiu e, por um momento, sentiu-se aliviado. Sabia que ter um aliado que entendesse as sombras poderia ser um divisor de águas em sua jornada. Ainda que confiasse em Thalia, ele precisava de alguém que compreendesse verdadeiramente o lado mais sombrio de seu poder.
Nos dias que se seguiram, Kael permaneceu em Valdara, ensinando a Darius maneiras de controlar e canalizar as sombras. Ele mostrou como o amuleto respondia à sua vontade, e ensinou técnicas para meditar e focar a energia sombria, mantendo-se em equilíbrio sem deixar que ela o corrompesse. Durante as lições, Kael revelou histórias sobre Guardiões antigos e suas lutas, enfatizando a importância de aceitar as sombras, mas sem permitir que elas dominassem sua alma.
Mas, enquanto Darius aprendia, algo lhe incomodava. Embora Kael demonstrasse paciência e sabedoria, havia uma profundidade sombria em seu olhar, como se ele mesmo tivesse experimentado as trevas de uma maneira que ia além da simples observação. E, por vezes, Darius sentia que Kael testava seus limites, como se tentasse ver até onde ele conseguiria ir sem ceder ao poder.
Finalmente, uma noite, durante um exercício particularmente intenso, Kael olhou para Darius com uma expressão séria. "Darius, há algo que você precisa entender. Ser um Guardião das Sombras não significa apenas proteger. Significa estar disposto a fazer o que for necessário, mesmo que isso exija sacrifícios. Às vezes, o bem maior está nas sombras mais profundas."
Darius franziu o cenho, sentindo um desconforto nas palavras de Kael. "E quem decide o que é o 'bem maior'? Eu? Você?"
Kael sorriu, mas seu olhar era intenso. "Essa é a questão, Guardião. Quando você carrega as sombras, você carrega uma responsabilidade maior que qualquer outro. A linha entre o bem e o mal, luz e sombra, se torna uma escolha sua. E essa escolha... determinará o destino de muitos."
As palavras ecoaram em sua mente enquanto ele tentava compreender o peso de seu título. Naquela noite, enquanto observava as sombras dançarem em volta dele, Darius sentiu que sua jornada estava apenas começando — e que as respostas que procurava talvez exigissem um preço maior do que imaginara.
Ele precisava confiar em Kael, mas permanecia vigilante. Afinal, as sombras sempre escondem segredos, e algumas respostas podem ser tão perigosas quanto as próprias trevas que ele jurara proteger.