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54.83% Dead Gods (Portuguese Edition) / Chapter 17: Capítulo 16: Chuva

Kapitel 17: Capítulo 16: Chuva

Parte 1

Ed ainda sentia o terror do pesadelo grudado em sua mente enquanto se levantava com cuidado para não acordar os companheiros. Ele caminhava silenciosamente pelos corredores da Guarda do Corvo, que estavam mergulhados na escuridão da madrugada, apenas iluminados pela luz fraca dos lampiões.

Ao virar um corredor, encontrou Helena, que parecia estar em patrulha ou talvez apenas passando pela área.

"Ed? O que faz acordado a essa hora?" perguntou Helena, sua voz baixa e preocupada.

"Estou sem sono..." Ed respondeu, tentando esconder o desconforto em sua voz.

"Ah, entendo. Se quiser, posso te oferecer um café. Às vezes ajuda a relaxar."

"Obrigado."

Enquanto caminhavam em direção à cozinha, Ed procurava por um tópico de conversa, mas as palavras pareciam fugir-lhe. O silêncio entre eles era confortável, mas Ed sentia que deveria dizer algo.

"Há quanto tempo você está na Guarda do Corvo?" Ed perguntou, tentando iniciar uma conversa.

"Uns três anos." Helena respondeu enquanto guiava-o pelos corredores.

"É um trabalho difícil, mas recompensador. E você? De onde você e os outros vêm?"

"Nós três somos de Lancashire." Ed disse, de forma um pouco evasiva.

"Fazemos isso a algum tempo, pelos menos... meu pai e o Wilde fazem."

Helena sorriu. "Imagino que seja uma vida divertida."

Finalmente, chegaram à cozinha. O espaço era pequeno, mas funcional, com paredes de pedra e uma iluminação suave, fornecida por lâmpadas pendentes sobre várias mesas de madeira enfileiradas no centro. A cozinha era simples, mas bem equipada: havia um fogão a lenha no canto, uma prateleira com utensílios e potes de cerâmica, e uma pequena pia com uma torneira de ferro que gotejava ocasionalmente.

Helena foi até a prateleira e pegou um pequeno pote de grãos de café. Com habilidade, começou a moer os grãos em um pilão de pedra, o som suave preenchendo o ambiente. Ela então colocou uma panela no fogão a lenha, despejou água e deixou ferver. Assim que a água começou a borbulhar, Helena adicionou os grãos moídos e mexeu com uma colher de madeira.

Enquanto o café filtrava, ela preparou uma xícara de cerâmica e observou Ed sentado em uma das grandes mesas. O olhar dele estava perdido nas sombras da cozinha, e ele parecia pensativo.

Helena despejou o café recém-preparado na xícara e caminhou até a mesa. "Aqui está. Espero que goste."

Ed aceitou a xícara com um sorriso agradecido. "Obrigado. Deve estar bom."

Ele deu um gole, tentando esconder a careta que quase escapuliu. O café tinha um sabor forte e amargo, muito diferente do leite doce que estava acostumado. Helena se sentou à mesa, observando-o com um olhar curioso.

"Então, Ed, você gosta de café, né?"

Ed hesitou por um momento, tentando encontrar uma resposta diplomática. "Sim, gosto. É apenas um pouco mais forte do que o que estou acostumado."

Helena notou a hesitação de Ed e sorriu. "Ah, compreendo. Este café vem de uma pequena região montanhosa ao leste, onde o clima é perfeito para cultivar os grãos. O sabor é um pouco mais intenso devido ao método de torrefação que é usado. É considerado um dos melhores do mundo."

Ed assentiu, tentando parecer interessado. "Entendi, deve ser um café realmente especial então."

Helena percebeu a falta de familiaridade de Ed com o assunto e riu suavemente. "Você não parece muito convencido, Ed. Parece que não é exatamente um especialista em café, não é?"

Ed corou ligeiramente e tentou sorrir. "Bem..."

Helena deu uma risada amigável. "Não se preocupe. A maioria das pessoas não entende muito de café também. O importante é que estamos aqui compartilhando um ótimo café."

Após alguns minutos conversando e tomando café, Helena se levantou e fez um gesto para que Ed a seguisse até a frente de uma grande janela. O vidro estava coberto por gotas de chuva que escorriam em um padrão irregular, criando uma vista borrada da tempestade do lado de fora.

"Olhe só para isso..." disse Helena, apoiando as mãos no parapeito da janela.

"Você sabia? A chuva nunca para por aqui."

Ed se aproximou e observou a tempestade intensa que caía, impressionado pela força dos ventos e pela quantidade de água que descia do céu. "Nunca para? Isso é realmente algo."

Helena sorriu, parecendo um pouco nostálgica. "Sim, é uma característica bastante comum aqui na ilha. A chuva é constante. É como se fosse parte da própria essência da ilha."

Ed inclinou a cabeça, curioso. "Você sabe por que isso acontece? Existe alguma explicação para isso?"

Helena balançou a cabeça, parecendo pensativa. "Na verdade, não sei muito bem. É algo que já existe há tanto tempo que ninguém realmente se lembra do motivo. Nem minha mãe sabia ao certo. Dizem que é apenas um dos mistérios antigos da ilha."

Ed olhou para ela, surpreso. "Isso é interessante. Deve haver muitas histórias e lendas sobre essa chuva."

"Sem dúvida." respondeu Helena com um sorriso.

"E cada um tem a sua teoria. Alguns dizem que é uma maldição dos deuses, outros acreditam que é uma punição pelos pecados das pessoas daqui. Seja qual for a razão, ela é uma parte importante da nossa vida aqui, e todo mundo odeia."

Ed sorriu suavemente. "Eu entendo. Deve ser difícil viver com uma chuva que nunca para. Deve ser uma merda e tanto."

Helena sorriu, parecendo satisfeita com a compreensão de Ed. "Então, Ed, me conte mais sobre você. O que faz um jovem Mercenário como você se envolver em uma vida tão perigosa?"

Ed deu um gole no café, pensando por um momento. "Bem, eu não sou exatamente um mercenário ainda. Estou aprendendo. Comecei com treinamento básico e algumas missões menores. A ideia é ganhar experiência e eventualmente me tornar um Mercenário completo."

"Isso é interessante!" Helena disse com um tom curioso.

"Como é a vida de um aprendiz de Mercenário? Deve ser cheia de aventuras, certo?"

"Sim, é verdade." Ed respondeu, com um pequeno brilho nos olhos.

"É um pouco como uma escola, mas com mais combate e menos livros. Aprendo sobre táticas, técnicas de combate, e como lidar com diferentes tipos de missões."

"Uau." Helena comentou, admirada.

"Isso deve ser bem intenso. E você já teve alguma missão que se destacou para você?"

Ed pensou por um momento. "Uma das primeiras missões que fiz foi ajudar a defender uns turistas de um bando de ladrões. Foi um desafio e tanto, mas também foi muito legal. Aprendi muito sobre trabalhar em equipe e manter a calma sob pressão."

Helena riu. "Parece que você já passou por bastante coisa para alguém que está apenas começando. E o que você acha de ser um Mercenário? É o que você sempre quis fazer?"

"Na verdade, sim." Ed respondeu com sinceridade.

"Sempre gostei de aventuras e desafios. Ser um Mercenário parece combinar com a ideia de explorar e enfrentar perigos."

"Isso é ótimo." disse Helena, ainda sorrindo.

"Deve ser legal sair por aí e conhecer pessoas novas, não é?"

Antes que Ed pudesse responder, alguém chamou por Helena do outro lado do corredor. Ela levantou a cabeça, reconhecendo a voz.

"Desculpe, um momento..." disse ela, levantando-se e indo até a origem do chamado.

Ed observou enquanto Helena conversava com um jovem de cabelo castanho claro e olhos curiosos, que usava a armadura padrão da Guarda do Corvo. O jovem parecia um pouco nervoso ao ver Ed.

Helena voltou para onde Ed estava, acompanhada pelo jovem. "Ed, este é Liam. Ele também faz parte da Guarda do Corvo. Liam, este é Ed Haver, um dos visitantes que está aqui para ajudar com o problema do monstro."

Liam estendeu a mão, e Ed a apertou. Ambos se encararam por alguns segundos, a tensão no ar era palpável. Liam parecia um pouco desconfortável, e Ed não sabia exatamente o que dizer.

"Prazer em conhecê-lo, Liam." Ed disse cordialmente, tentando aliviar o clima.

Liam forçou um sorriso. "Igualmente, Ed."

Helena, percebendo o desconforto, decidiu intervir. "Bem, acho que é hora de voltarmos ao dormitório. Liam, se precisar de algo, é só chamar."

"Claro, Helena." respondeu Liam, ainda um pouco hesitante.

"Até mais, Ed."

Ed fez um gesto de despedida e, com um suspiro, decidiu voltar para a cama. "Vou tentar descansar um pouco mais. Boa noite, Helena."

"Boa noite, Ed." respondeu Helena com um sorriso compreensivo.

"Nos vemos amanhã."

Parte 2

Pallas e Don desceram de seus cavalos diante de uma imponente muralha de aço escuro frio. A chuva caía incessantemente, transformando o chão em um lamaçal escorregadio. A água escorria pelos cabelos e pelos rostos dos dois homens, mas eles não se deixavam abater pela intempérie. A muralha, antiga e desgastada pelo tempo, parecia uma sentinela silenciosa, guardando os segredos da cidade que se escondia além.

Pallas se aproximou de um dos guardas que estavam de pé em frente a um grande portão de aço. O guarda, imponente em sua armadura gasta, fez uma saudação respeitosa.

"Vamos entrar. Prepare os homens." disse Pallas com firmeza.

"Mantenham-se atentos."

Don assentiu ao lado de Pallas, colocando seu capacete e preparando-se para o que estava por vir. Pallas e Don se afastaram e voltaram para seus cavalos, desaparecendo na escuridão da noite.

O portão de aço rangeu ao ser aberto, revelando uma cidade em ruínas, que uma vez fora grande e próspera, com uma arquitetura reminiscente de antigas cidades. As ruas estavam desertas, salpicadas de ruínas e detritos, enquanto a chuva continuava a desfigurar o que restava de sua antiga grandeza. Colunas quebradas e fachadas em ruínas contavam histórias de uma era mais gloriosa, agora submersa na penumbra e no abandono.

Os guardas da Guarda do Corvo, agora com seus capacetes colocados e armaduras reluzentes mesmo sob a chuva, avançaram em formação. O som de suas botas pesadas misturava-se com o ruído incessante da chuva, criando uma sinfonia de passos e gotas. A cidade, apesar de ser visivelmente abandonada, parecia estar viva de uma maneira inquietante.

À medida que o grupo se aproximava do centro da cidade, o ambiente parecia mudar. O silêncio, geralmente característico dos lugares desolados, era interrompido por murmúrios indistintos e sons estranhos que ecoavam das sombras. A sensação de estar sendo observado era palpável, aumentando a tensão entre os membros da guarda.

Finalmente, chegaram à praça central, uma vasta área aberta cercada por edifícios em ruínas e estátuas quebradas que pareciam guardar a cidade mesmo após sua decadência. A chuva formava poças profundas nas fissuras do chão de pedra. No entanto, o que chamou a atenção de todos foi um grito agudo que cortou o ar com uma clareza desconcertante.

"É a Guarda do Corvo! Corram!"


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