Rosalinda franziu os lábios enquanto tentava evitar uma das pedras afiadas na beira do penhasco. O som da chuva contra as rochas chamou sua atenção. O sol já havia se posto, e os perseguidores haviam deixado esta área, mas ela se deparou com outro problema.
A chuva.
Era algo em que ela nunca pensou enquanto fugia. Sua imprudência era imperdoável. Afinal, ela ainda tinha coisas a fazer — pessoas que precisava enfrentar.
Ainda assim, ela se considerava sortuda por terem encontrado uma pequena caverna que deve ter sido formada pela força avassaladora da água ao se chocar contra a lateral do penhasco.
Era tarde demais para ela perceber que este penhasco era mais perigoso do que ela inicialmente esperava. Sem o estranho, ela teria batido nas rochas e quebrado um osso — supondo que não atingisse algo afiado.
Ela olhou para o estranho que estava sentado não muito longe dela. Seus olhos se fixaram em sua ferida. Ainda estava sangrando. Apesar de ela não conseguir ver claramente porque o fogo que o estranho fez para mantê-los aquecidos estava prestes a se apagar.
Seus olhos encontraram os dele. Ela não estava exatamente surpresa em saber que ele também estava olhando para ela.
Ele ainda estava vivo.
Estranho, ela pensou.
Até mesmo um homem do Norte, conhecidos por seus corpos poderosos, teria morrido até agora. Afinal, eles estavam ali há algumas horas. Nenhum dos dois falou desde o encontro inicial.
Assim como ela o observava, ele a observava como um predador encarando outro predador. Ele estava desconfiado dela.
E ela podia sentir isso.
O ar entre eles estava carregado com algo que ela só poderia reconhecer como perigo.
"Por que uma jovem protegida viria por este caminho?" ele perguntou.
Ela não disse nada em resposta. A planta roxa que ela havia pego mais cedo ainda estava em seu peito, seguramente escondida contra sua pele. Infelizmente, sua essência não duraria muito tempo. Algumas horas a mais e ela morreria, perdendo sua habilidade de envenenar seu corpo e despertar sua bênção à força.
"Isso— "
"Jovem senhora," ela o interrompeu quando ele notou seus olhos em sua perna. "E olhar para a carne exposta de uma senhora é rude."
"Você tem me olhado há horas."
Ela o encarou, sentindo seu rosto esquentar. Ela estava olhando para o sangue, para a ferida dele!
"E você nem mesmo me agradeceu por ter te salvado," ele disse.
"Obrigada."
"Ha… e aqui pensei que você tinha ficado muda de medo," ele riu. Sua voz grave a lembrava da noite, escura e misteriosa. E perigosa.
Um homem que estava sangrando por horas e não havia mostrado sinais de fraqueza era definitivamente alguém perigoso.
E se ele era mesmo do Norte, como ela previra quando se encontraram, então poderia facilmente matá-la só porque ela o viu nas terras pertencentes ao Império Aster.
As pessoas do Norte são conhecidas por seus métodos brutais. Eles estavam protegendo os impérios do sul e os reinos contra o que se escondia atrás das montanhas ainda mais ao norte.
Todo mundo os conhecia não apenas por seus corpos mais fortes, mas por sua falta de lei. Em sua vida passada, ela havia trabalhado sob a Imperatriz Dorothy e havia aprendido muito sobre eles.
"O rio em breve subirá," ele disse.
Ela olhou para o rosto sombreado dele. Ele parecia muito bonito. A ponte do nariz era alta. Suas sobrancelhas eram perfeitamente esculpidas, como se fosse a própria deusa quem as tivesse feito. Com sua aparência, não havia como ela não ter ouvido falar dele no passado.
"Você está ferido," ela disse em resposta. Ele ainda estava sangrando, mesmo com seu poderoso corpo. Ele não seria capaz de ir muito longe com esse tipo de clima.
"Não acho que isso seja da sua conta."
"Você me salvou," ela disse. Seu tom brusco estava a irritando. "Eu estava tentando retribuir o favor." Procurando maneiras de tentar parar o sangramento. Embora ela não fosse especialista em curar feridas.
Ele deu um sorriso sarcástico.
"Então cure minha ferida."
Um olhar de incredulidade passou por seus olhos. Então ela voltou sua atenção para o fogo. Ela ignorou o homem!
E daí se ele morrer por perder muito sangue? Assim que a chuva mostrasse sinais de parar, ela decidiu deixar esse pequeno abrigo e usar sua planta roxa. Uma vez que isso acontecesse, ela poderia deixar este lugar e voltar para Milith.
Milith.
Ela se perguntava se seu pequeno servo havia sobrevivido. Levar Milith com ela seria muito arriscado. Além disso, ela não queria explicar nada para ela. Neste momento, Rosalinda decidiu não confiar em mais ninguém além de si mesma.
"Como você chegou aqui?" ele perguntou enquanto adicionava mais lenha ao fogo. De onde ele tirou a lenha, ela não sabia. Ela estava, claro, curiosa, mas sabia que seria ainda mais inadequado perguntar-lhe qualquer coisa. Esse homem a salvou da queda e agora ele fez fogo.
Ela tinha certeza de que ele fez todas essas coisas para se salvar, mas ainda assim era grata.
"Eu me perdi," ela mentiu.
"Certo."
"Eu moro não muito longe daqui. Só queria caçar. Então ouvi uma luta, e fiquei curiosa."
"Você gostaria que eu acreditasse que uma mulher como você mora nesta parte do Império?"
Ela revirou os olhos. Parece que ela se importava?
Ele estava fazendo uma pergunta, então ela respondeu. Isso não significa que ela ia contar a verdade.
"E você?" ela perguntou.
"Eu caí," ele respondeu quase imediatamente.
"Certo," ela disse. Ambos estavam mentindo descaradamente.
"Você não está com fome?" ele perguntou.
"Estou."
"Então faça alguma comida."
"Como é?"
"Estou ferido e fraco. Vulnerável e morrendo."
Ela deu um grito de incredulidade. O que ele estava dizendo? Claramente, ele estava longe de ser fraco.
Além do mais, onde ela encontraria comida agora?
"Eu te salvei, lembra?" ele perguntou. "De onde eu venho, salvar alguém significa possuir sua vida."
"Estou pensando em palavras maldosas para insultar essa tradição, mas não consigo pensar em nenhuma," ela disse sem rodeios. "Você salvou minha vida. Mas isso não significa que eu sairia correndo lá fora e seria uma escrava. Eu sou apenas uma mulher vulnerável que não sabe caçar."
Ele deu de ombros e olhou para a direita.
"Você não é como as outras garotas," ele disse.
Quase imediatamente, ela disse, "Senhora."
Ele riu disso. "Desculpe-me... minha senhora," ele disse, sem esconder o sarcasmo em sua voz. De repente, ele olhou para a direita pela segunda vez. "Mas seu salvador está faminto. Há uma cobra morta a poucos metros à minha direita. Eu fiz o fogo. Agora é a sua vez de fazer a comida."
Ela o encarou severamente.
Uma cobra morta depois de dizer que estava faminto?
Suspeita brilhou em seus olhos. Eles estavam conversando, e ela não o viu se mover um centímetro.
Foi apenas uma coincidência?
Vendo o cenho dela franzido, ele riu. Parecia que ele estava se divertindo com o desconforto dela. Ele esperava que ela se encolhesse de medo com a menção da palavra cobra?
Infelizmente para ele, ela já tinha comido coisas piores em sua vida passada!
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PERGUNTA: Isso está conectado ao Pecado do Licano?
Resposta: NÃO. No Pecado do Licano, eu introduzi o conceito de múltiplas dimensões e até incluí o protagonista masculino dos Jogos da Rosie - Lucas! Mas esta é uma história diferente. Você pode ler isto sem ler o Pecado do Licano!