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76.92% Sobrevivente Z / Chapter 10: A chuva chega

Chapter 10: A chuva chega

O sol veio e se foi, escondido entre as nuvens de tempestade. A estrela parecia observar os acontecimentos na Cidadela de Élios. Apesar do apocalipse, a vida seguia seu fluxo habitual: pessoas trabalhavam, riam, choravam e, claro, lidavam com suas tristezas.

Dentro de uma pequena casa nos subúrbios, porém, algo nunca visto antes acontecia.

Sentado em um sofá desgastado, um caçador pingava gotas de suor enquanto uma intensa luz vermelha o cercava. A feição que antes era completamente vazia agora estava distorcida, um reflexo de uma dor excruciante que parecia consumir cada fibra de seu ser. Seu rosto contorcido denunciava o tormento que enfrentava, enquanto um gemido abafado escapava de seus lábios cerrados.

Alguns minutos depois, tudo se acalmou. A luz desapareceu tão repentinamente quanto surgira, e o silêncio voltou a reinar no ambiente. Kael, o homem antes ferido que se movia com dificuldade, estava agora de pé, completamente curado. Não havia cortes, hematomas ou qualquer sinal do combate recente. Sua respiração ainda estava acelerada, mas a dor que parecia insuportável tinha sumido como se nunca tivesse existido.

"Porra, o que acabou de acontecer?!" Ainda zonzo e desorientado, ele olhava o chão, tentando reunir os pedaços do que acabara de vivenciar. Seus olhos se moviam rapidamente, como se buscassem uma resposta no ar ao seu redor. 

"Isso é impossível... só me senti assim antes, quando fui injetado com o soro do despertar!" A voz de Kael era trêmula, sua expressão uma mistura de incredulidade e receio.

A primeira vez que um caçador recebe a injeção de despertar, ele vivencia algo único. O corpo, antes limitado, rompe suas barreiras naturais. Os sentidos se expandem de forma impressionante: sons sutis podiam ser ouvidos à distância, a visão tornava-se mais nítida, e a força e agilidade alcançavam patamares sobre-humanos.

Apesar dos benefícios, nem todos eram compatíveis com a droga. A maioria dos que tentavam se submeter à injeção não sobreviviam. O corpo humano, frágil e imperfeito, muitas vezes não suportava as mudanças bruscas provocadas pelo soro.

Os desafortunados enfrentavam reações terríveis: febres altas, alucinações, convulsões e, eventualmente, uma morte dolorosa. Para cada caçador bem-sucedido, dezenas pereciam, vítimas de uma rejeição avassaladora.

Olhando ao redor, Kael percebeu que a noite havia caído silenciosa. As sombras já engoliam o ambiente, e a pedra que antes brilhava em suas mãos havia desaparecido.

Kael não era tolo. Ligando os eventos, as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar em sua mente.

'A pedra tem algo a ver com isso, e aquelas pessoas que caçavam o zumbi gigante devem saber algo...' Pensando nisso, seus olhos se estreitaram, enquanto seu semblante se endurecia.

Enquanto Kael mergulhava em pensamentos, do outro lado da cidadela, cinco pessoas terminavam de discutir o plano de ataque para a manhã seguinte.

"Jack, o que acha? Consegue seguir com o plano?" A voz rouca de um homem de aparência desgrenhada rompeu o ar, enquanto ele enrolava os pelos da barba de maneira distraída. Seu olhar fixava-se em Jack, buscando garantia.

"Tenho que conseguir... A vingança de Jeff e Isaac depende de nós. Farei o melhor."

Apesar da determinação, Jack mantinha um semblante cansado. As marcas do golpe ainda cruzavam seu torso como cicatrizes frescas, visíveis mesmo sob as bandagens.

"Se isso é tudo, acho que devemos preparar nossos equipamentos e comida antes de descansarmos." O militar de aparência comum sugeriu, observando a expressão distante da mulher de cabelos negros.

"Acho que devemos comprar comida. Ficamos nessa discussão desde a manhã, estou faminto, e Jack precisa se alimentar bem para se recuperar!" Noah reclamou, levantando-se da cadeira. Sem esperar resposta, ele caminhou até a porta.

Caminhando em direção ao centro, os cinco observavam a movimentação tranquila dos moradores da cidade. Apesar das circunstâncias, a vida seguia seu fluxo pacífico, quase indiferente à ameaça constante do mundo exterior.

"Capitã? Está tudo bem?" indagou Noah, com seus olhos azuis fixos na mulher parada no meio da estrada.

"Essa sensação..." murmurou a mulher de cabelos negros, seu olhar estreitando-se ao focar em um homem de pele negra, estatura média e cabelos curtos, próximo de uma barraca de comida.

"Duas porções de frango ensopado com legumes, para viagem, por favor," disse Kael ao atendente, sua voz baixa, mas firme.

'Tem alguém me observando...' ele sentiu o peso de um olhar em suas costas, seus instintos o alertando. Sem virar completamente, ajustou a postura, atento aos arredores enquanto aguardava sua refeição.

"Está tudo bem! De repente, tive a sensação de já ter visto alguém por aqui." A mulher respondeu, sua voz firme, mas o leve arrepio na nuca revelava o desconforto.

'Aquela pessoa é perigosa... meus instintos estão gritando que ele é como aquele monstro gigante.' Os pensamentos ecoaram em sua mente, mas não se transformaram em palavras. Mesmo assim, ela lançou outro olhar furtivo ao homem antes de desviar o foco para o caminho à frente.

"Vamos, ainda não chegamos ao restaurante. Precisamos nos apressar antes que comece a chover." Ordenou em tom uniforme, retomando a caminhada.

'Então eram eles... Será que fui descoberto?' Kael pensava enquanto observava o grupo se afastar em direção ao restaurante próximo.

'Acho que é apenas coincidência, mas manterei minha guarda alta amanhã quando for caçar.'

Embora ainda abalado pela batalha recente, Kael sabia que precisava seguir em frente.

'Algo está diferente no meu corpo. Tenho que entender o que mudou para não ser pego desprevenido.'

"Senhor, seu pedido está pronto, são 35 créditos," chamou o atendente, interrompendo os pensamentos de Kael.

Enquanto caminhava para casa, ele se perdia novamente em reflexões. A aparição de um novo tipo de infectado, aquelas pessoas vindas da capital, e a associação pedindo mais pedras para pesquisa... Tudo parecia interligado, mas as respostas ainda estavam fora de alcance.

Chegando à velha casa alugada, Kael notou uma gota fria cair em seu rosto.

Olhando para o céu nublado, ele murmurou antes de entrar:

"A chuva já chegou..."


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